sexta-feira, 18 de março de 2011

SOCIOLOGIA- 1º BIMESTRE - 2º ANO A - MATUTINO

A formação do pensamento sociológico no Brasil

Por Cristina Costa

No Brasil, o processo de formação, organização e sistematização do pensamento sociológico obedeceu às condições de desenvolvimento do capitalismo e à dinâmica própria de inserção do país na ordem capitalista mundial. Refletindo, portanto, a situação colonial, a herança da cultura jesuítica e o lento processo de formação do Estado nacional.

No período colonial, a cultura religiosa foi utilizada como um importante instrumento de colonização. A Ordem dos Jesuítas com sua filosofia universalista e escolástica, durante três séculos, exerceram o monopólio sobre a educação. O pensamento culto e a produção artística que no país à época se desenvolveram, introduzindo paralelamente um sistema misto de exploração do trabalho indígena que, combinado com o ensino religioso, agiu de modo a aniquilar gradativamente a cultura nativa, submetendo as populações escravas e distinguindo drasticamente as camadas cultas daquelas que realizavam o trabalho braçal. De forma que se pode afirmar que a cultura do Brasil colonial mantém e ostenta ao longo de sua vigência um caráter ilustrado, de distinção social e dominação.

No século XVIII, ocorre o surgimento e a influência das classes intermediárias, o desenvolvimento da mineração promove importantes transformações sociais, alterando a sociedade colonial que, até então, dividia-se em: donos de terra e administradores de um lado e escravos de outro. Surgindo ocupações novas: comerciantes, artífices, criadores de animais, funcionários da administração que controlavam a extração de minérios e sua exportação, e outras. A população livre passa a ser mais numerosa que a escrava. Essa camada intermediária livre e sem propriedades, torna-se consumidora da erudição e cultura européia, tentando distinguir-se tanto do escravo inculto como da elite colonial conservadora, contando para tanto, com o ensino praticado pelas ordens religiosas - caráter progressivo - estabelecidas em Minas Gerais à época. No campo das artes plásticas, passam a ser notadas manifestações nacionais, por meio de um barroco original e uma música de técnica surpreendente. Já, no que tange ao campo científico, a produção mostra-se ainda muito pequena, predominando, por sua vez, ainda o saber erudito voltado para os estudos jurídicos.

No que tange ao século XIX, com a transferência da corte joanina para o Brasil, em 1808, é introduzida na colônia a cultura portuguesa da época, resultante das influências do humanismo neoclassista francês e da produção cultural da Universidade de Coimbra. São fatos importantes, referente à época: a criação da Academia de Belas Artes, a fundação da imprensa, o lançamento do primeiro jornal, a organização da primeira Biblioteca Nacional e dos primeiros cursos superiores, que em parte rompem com a cultura escolástica e literária anterior. Neste período também se introduziu o instrumental prático destinado à formação e viabilização do aparelho administrativo do império, porém, ainda que voltada mais à praticidade, a cultura nacional continuava sendo alienada, ditada pelas formas européias, objetivando organizar o saber descritivo, funcional e ostentatório, bem como, garantir o domínio do poder imperial.

Nos movimentos intelectuais e literários até meados do século XIX, apesar de tratarem de questões políticas e sociais, a terra e a nação surgiram apenas como objeto, como tema, nunca como pensamento crítico desenvolvido a partir das condições próprias da nação. Essa dicotomia entre a realidade vivida e o conhecimento produzido e consumido pela elite não só mantinha a prevalência do caráter ostentatório da cultura de elite, como caracterizava uma nova forma de alienação, responsável pelo tardio desenvolvimento da ciência no Brasil. Somente após 1870, sob pressão do que ocorria na Europa, que significativas mudanças irrompem na sociedade brasileira, mudanças essas que fundidas a ciclos econômicos decadentes provocaram a emergência do pensamento crítico que passa a ser apresentado de forma incisiva, tanto na criação literária quanto na crítica social.

É de grande importância para o desenvolvimento do pensamento sociológico brasileiro o desenvolvimento do capitalismo no país. O desenvolvimento das atividades comerciais e de exportação, do início do século, com a formação da burguesia nacional, revolucionou o modo de pensar da intelectualidade e da sociedade brasileira. Essa revolução decorre da necessidade da nova classe, de um saber mais pragmático, menos vinculado a uma estrutura social herdada da colonização. A partir de então, verifica-se uma tentativa de ruptura com a herança cultural do passado e procura-se combater o analfabetismo, homogeneizar os valores e o discurso, criar um sentimento de patriotismo que levasse a mudanças reais na estrutura social, repudiando todo traço de colonialismo, de atraso e importação cultural.
Mas apesar de podermos reconhecer que desde o final do século XIX, já se possa verificar no Brasil uma espécie de pensamento sociológico, desenvolvida por Euclides da Cunha, dentre outros, a sociologia entendida como atividade autônoma voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, só irrompe na década de 30 do século passado. Época em que o mundo liberal entrou em crise profunda e as relações econômicas internacionais mostraram suas contradições mais agudas, afinal, é no momento de crise que a crítica se desenvolve, sistematizando-se de maneira científica na sociologia.


Atividades:
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