segunda-feira, 21 de março de 2011

COMPONENTE CURRICULAR: FILOSOFIA 2º ANO A – 1º BIMESTRE

Ciência

Tão antiga quanto a própria existência do homem é sua inquietude diante da percepção e da compreensão dos objetos e dos fenômenos que o cercam. As noções sobre astronomia, geometria e física herdadas de antigas civilizações, como a suméria, a egípcia, a babilônia e a grega, constituem o alicerce do pensamento científico contemporâneo.

Em termos gerais, ciência se confunde com qualquer saber humano. Em sentido estrito, define-se ciência como as áreas do saber voltadas para o estudo de objetos ou fenômenos agrupados segundo certos critérios e para a determinação dos princípios que regem seu comportamento, segundo uma metodologia própria.

Origem das ciências

Em última instância, a origem da ciência radica na capacidade de raciocínio do homem e em sua disposição natural para observar. Os primeiros seres humanos se deixaram fascinar pelo espetáculo oferecido pelos astros e, após observação contínua de sua movimentação, perceberam certa regularidade nos ciclos solar e lunar e na passagem periódica de cometas. A primeira grande conquista científica foi, portanto, a constatação de que certos fenômenos se repetem.
A imitação da natureza e a necessidade de superá-la e dominá-la, as inovações técnicas exigidas por cada sociedade para satisfazer seus interesses bélicos e comerciais e o prazer intelectual do conhecimento foram fatores decisivos no desenvolvimento inicial da ciência. Cada etapa da evolução científica esteve impregnada da filosofia de seu tempo e, em algumas épocas, houve grande empenho em justificar teoricamente certas concepções políticas ou teológicas. O conflito ideológico entre ciência e religião, ou entre ciência e ética, foi um traço marcante de muitas civilizações ao longo da história.
O vertiginoso avanço científico verificado nos séculos XIX e XX favoreceu o aparecimento de correntes de pensamento que pretendiam substituir os preceitos morais pelos princípios da ciência. Esse propósito, no entanto, viu-se prejudicado pelas questões éticas levantadas pela utilização das descobertas científicas. Embora na maior parte dos casos os estudos científicos não suscitem problemas metafísicos e proporcionem bem-estar e progresso, comprovou-se que podem converter-se em poderoso instrumento de destruição quando postos a serviço da guerra. O aproveitamento da energia nuclear para fins militares toldou em parte o ideal científico racionalista.
Por outro lado, surgiram recentemente outras questões polêmicas, envolvendo a engenharia genética, sobretudo no que se refere à manipulação das primeiras fases da vida humana, com a inseminação artificial, a fecundação in vitro, o congelamento de embriões e a possível produção de clones humanos.
Classificação das ciências
A ambição de saber própria do ser humano fez aumentar de tal forma o volume do conhecimento acumulado que este supera em muito o saber particular de cada indivíduo, tornando necessária a criação de sistemas de ordenação e classificação. O próprio conceito de ciência e sua evolução histórica trazem a necessidade de estipular a área de conhecimento que compete a cada disciplina científica. Criou-se assim a taxionomia, ou teoria da classificação, disciplina independente que determina o objeto de cada área do conhecimento científico.
Aristóteles formulou uma primeira classificação que distinguia três grupos: o das ciências teóricas (física, matemática e metafísica), o das ciências práticas (lógica e moral) e o das ciências produtivas (arte e técnica). Entre os muitos métodos classificatórios menciona-se especialmente o do físico francês André-Marie Ampère, do início do século XIX, segundo o qual as ciências se dividiam em duas áreas: as chamadas ciências cosmológicas (subdivididas em cosmológicas propriamente ditas e fisiológicas), que estudavam a natureza, enquanto as ciências noológicas (subdivididas em noológicas propriamente ditas e sociais) referiam-se aos raciocínios abstratos e às relações dos seres humanos em sociedade.
Embora se haja mantido a pluralidade de critérios no que se refere à ordenação científica, a tendência moderna é definir várias áreas de conhecimento e englobar em cada uma delas múltiplas disciplinas. O conjunto das ciências exatas agrupa a matemática, a física e a química. As ciências biológicas ocupam-se do estudo dos seres vivos em diversos níveis (celular, de tecidos, de órgãos etc.) e compreende grande número de disciplinas, como a botânica, a zoologia, a genética, a ecologia etc. Uma terceira área de conhecimento agrupa as ciências geológicas e geográficas, que tratam dos fenômenos relativos à Terra, e as astronômicas, relacionadas ao cosmos. Em outra esfera situam-se as ciências médicas, também muito diferenciadas, e um quinto segmento englobam as ciências sociais (economia, sociologia, demografia etc.).
As diversas disciplinas podem também classificar-se em dois grandes grupos, segundo seu objeto seja puramente científico, sem finalidade prática imediata (a chamada pesquisa de ponta) ou integrem a área das ciências aplicadas, como as pesquisas tecnológicas que se desenvolvem nas áreas mais especializadas da engenharia, arquitetura, metalurgia e muitas outras.
História da ciência
Admitindo-se a curiosidade e a ânsia de conhecer como qualidades inatas do gênero humano, pode-se afirmar que o nascimento da ciência deu-se com as primeiras observações dos homens primitivos, antes mesmo que fosse inventada a escrita.
Primeiras civilizações. Alguns monumentos megalíticos, como o cromlech de Stonehenge, na Inglaterra, são testemunho de que os europeus pré-históricos possuíam noções de astronomia e geometria muito superiores às que lhes foram atribuídas durante séculos.
Os primeiros centros importantes de irradiação científica localizaram-se na China, na Índia e no Oriente Médio. A sabedoria e a técnica chinesas superaram as ocidentais durante quase toda a antiguidade. Os sábios chineses mediram fenômenos celestes em tempos muito remotos e progrediram extraordinariamente na alquimia, na medicina e na geografia, apoiados por seus governantes. Os indianos, mais interessados em questões metafísicas, desenvolveram muito a matemática e deram ao mundo moderno o sistema de numeração, transmitido e aperfeiçoado pelos árabes. No Egito prestava-se mais atenção à resolução de problemas técnicos, enquanto na Mesopotâmia os caldeus e babilônios dedicaram-se sobretudo à astronomia e à matemática, além de aperfeiçoarem as técnicas de irrigação e construção de canais.
Cultura grega
O surgimento de uma cultura como a grega, isenta de misticismo exacerbado e onde os deuses eram mais sobre-humanos que divinos, deu lugar aos primeiros modelos racionalistas. Sua filosofia foi a mais importante da antiguidade e serviu de modelo à ciência teórica, baseada na educação e não na experiência, conhecida como filosofia natural. A tradição helênica consagrou Tales, que viveu em Mileto, cidade grega da Anatólia ocidental, no século VI a.C., como o primeiro representante dessa corrente de pensamento. Tales procurou a ordem universal (kosmos em grego significa ordem) mediante a determinação dos elementos fundamentais que compõem o mundo e considerou o destino como motor dos corpos, que se encaminham naturalmente para seu próprio fim. Não deixou escritos, mas discípulos transmitiram e complementaram suas teorias. Chegou-se assim à suposição de que todos os corpos conhecidos se formavam dos quatro elementos: terra, fogo, água e ar.
Fundamental para a ciência grega foi o pensamento de Pitágoras, um dos primeiros a medir fenômenos físicos. Estabeleceu ele as leis acústicas pelas quais se relacionam as notas musicais e aplicou a mesma teoria à disposição dos planetas, do Sol, da Lua e das estrelas no firmamento: esses corpos celestes girariam em volta da Terra em sete esferas concêntricas.
A síntese do pensamento grego veio com Aristóteles, cuja preocupação foi manter a concepção espiritualista de seu mestre, Platão, integrando-a, porém, numa explicação científica do mundo físico. Aristóteles adotou o modelo de esferas concêntricas de Pitágoras. Seus acertos na classificação dos seres vivos foram excepcionais, embora, por falta de conhecimentos matemáticos suficientes, tenha enunciado teorias físicas que, devido ao enorme prestígio que conquistaram na Idade Média, constituíram mais entrave do que benefício na história da ciência. Destaca-se também a figura de Arquimedes, que, discípulo do matemático Euclides, descobriu importantes leis da hidrostática, as roldanas e a alavanca.
As teorias gregas, que atribuíam ao mundo físico os ideais de beleza e perfeição plasmados em suas esculturas, viram-se seriamente abaladas depois da conquista da Mesopotâmia por Alexandre o Grande, pois os cálculos e medidas astronômicas dos caldeus puseram a descoberto falhas e incoerências nos modelos cósmicos aristotélicos. Mais tarde, Ptolomeu conseguiu reduzir as discrepâncias adotando o sistema geocêntrico, que situava a Terra no centro do universo.

A medicina grega atribuía causas naturais a todas as doenças. Hipócrates, estudioso da anatomia e do corpo humano, é considerado o pioneiro da medicina, embora esta tenha chegado ao apogeu na época helenística alexandrina. Destacaram-se então os estudos de Galeno de Pérgamo, que descobriu as veias, as artérias e os nervos, aos quais caberia propagar a energia vital pelo corpo.

Roma, Islã e cristianismo medieval.

O esplendor da ciência de Arquimedes e Euclides coincidiu com o estabelecimento do poder romano no Mediterrâneo. Os romanos limitaram-se a preservar os estudos dos gregos e preferiram resolver problemas de engenharia e arquitetura. Com a decadência e queda do Império Romano, os textos da antiguidade clássica praticamente desapareceram na Europa. A expansão do cristianismo, que se produziu nos últimos séculos do Império Romano, deu novo alento às interpretações espirituais e teológicas do mundo. Somente os mosteiros serviram de refúgio para a ciência antiga, pois neles os monges fizeram cópias manuscritas e comentários dos livros salvos dos saques promovidos pelas tribos germânicas que invadiram o continente.

A civilização árabe assimilou o acervo cultural do Ocidente e transmitiu o saber antigo à cristandade pela ocupação da península ibérica. Traduziram a obra de Aristóteles e de outros filósofos, fizeram progressos na medicina, na astronomia e na alquimia e inventaram a álgebra. Nesse contexto, sobressaem as figuras de Averroés, tradutor e comentarista da obra aristotélica, e de Avicena, cujo Canon foi o texto básico de medicina durante toda a Idade Média.

A cultura cristã medieval submeteu todo o conhecimento ao enfoque teológico. Registraram-se, no entanto, alguns avanços tecnológicos notáveis. As pesquisas no campo da óptica atingiram grande desenvolvimento e a utilização de novas máquinas (como jogos de roldanas) e ferramentas (maças, cinzéis, rolos) permitiram aperfeiçoar os processos de construção e deram base técnica aos estilos arquitetônicos românicos e góticos.

Revolução científica e revolução industrial. A consolidação do estado como instituição, a intensificação do comércio e o aperfeiçoamento da tecnologia militar contribuíram para aumentar o interesse pelas realizações técnicas. O Renascimento, primeiro na Itália e depois no resto da Europa, contribuiu com uma visão mais completa dos clássicos da antiguidade e levou ao humanismo, que concebia o homem como imagem de Deus, capaz e digno de criar. O exemplo máximo de gênio criador do Renascimento foi Leonardo da Vinci, que se destacou como artista, inventor, engenheiro e perito em anatomia humana.

Os antigos modelos teóricos já não comportavam o volume gigantesco dos novos conhecimentos e, por isso, a maior parte das perguntas ficava sem resposta. Era preciso estabelecer um modelo básico e uma metodologia que servissem de orientação para os novos estudos. Esses recursos foram fornecidos por Copérnico, Galileu, Newton e outros cientistas, que tiveram de superar dois obstáculos de monta: as idéias e o prestígio de Aristóteles, muito arraigados no espírito medieval, e a hegemonia dos princípios defendidos pela igreja.

O heliocentrismo, modelo que situa o Sol no centro do universo, já fora usado por Aristarco de Samos na Grécia antiga. Não podendo ser confirmado pela experiência, foi superado pelo geocentrismo de Ptolomeu. Copérnico enfrentou o mesmo problema ao formular sua teoria heliocêntrica, embora apoiado pelos estudos e observações de outros astrônomos, como Tycho Brahe, Kepler e Galileu, que foi o primeiro a utilizar o telescópio.

A obra De humani corporis fabrica libri septem (1543; Sete livros sobre a organização do corpo humano), de Andreas Vesalius, aplicou um novo método ao estudo do corpo humano, que contestava Galeno em algumas opiniões, até então tidas como irrefutáveis. A química, ainda centrada na análise da enorme quantidade de substâncias descobertas pelos alquimistas, só encontrou seu caminho científico moderno com Lavoisier, no século XVIII.

No século XVII, Newton publicou sua obra magna: Philosophiae naturalis principia mathematica (1687; Princípios matemáticos da filosofia natural), em que não só anunciava as leis fundamentais do movimento dos corpos e da gravitação universal, como apresentava um método de trabalho que se mostraria aplicável a muitas áreas científicas. Simultaneamente com Leibniz, Newton inventou o cálculo infinitesimal, que daria a seus sucessores um valioso instrumento matemático. Uma das conseqüências mais importantes das idéias e do método newtonianos manifestou-se no século XVIII, quando Coulomb enunciou uma lei análoga à lei de Newton para a mecânica, aplicável à eletricidade.

As ciências biológicas progrediram mais lentamente que as ciências técnicas. No século XVIII, porém, surgiu a primeira classificação rigorosa de animais e vegetais que se conhece desde a época de Aristóteles. Com ela, o sueco Carl von Linné, conhecido como Lineu, lançou as bases da taxionomia moderna na classificação botânica e zoológica.

Atomismo, evolução e relatividade.

No século XIX surgiu um novo enfoque das ciências, marcado de certa forma pela descoberta do mundo microscópico e pela formulação de modelos atômicos. A conexão entre as forças elétricas e magnéticas, corroborada por Oërsted e Faraday, deu origem a uma teoria unitária das modalidades físicas de ação recíproca que se mantém até hoje. Houve grandes progressos nos métodos matemáticos e, conseqüentemente, na formulação de complexos modelos teóricos. Joule e Helmholtz estabeleceram o princípio de conservação da energia e Helmholtz descobriu também a natureza eletromagnética da luz.

Com a teoria atômica de Dalton e o sistema periódico de Mendeleiev, a química consolidou seus princípios e seu método, enquanto a biologia teve grande impulso com os estudos de classificação realizados por Cuvier. Ainda no século XIX, o naturalista inglês Darwin provocou uma autêntica revolução, que durante muitos anos foi objeto de controvérsia, com a publicação do livro On the Origin of the Species by Means of Natural Selection (1859; A origem das espécies), onde se acha exposta a célebre teoria da evolução. Em 1838, Schwann e Schleiden lançaram as bases da teoria celular. Pouco depois, Pasteur e Koch estudaram a natureza dos germes microscópicos causadores das enfermidades e criaram as primeiras vacinas. As ciências sociais progrediram e deram nascimento à sociologia e à economia como disciplinas científicas e independentes.

O século XX principiou com a descoberta da radioatividade natural por Pierre e Marie Curie e o anúncio de novas doutrinas revolucionárias. A confirmação do conceito evolucionista das espécies e a extensão dessa idéia ao conjunto do universo, junto com a teoria quântica de Planck e a teoria da relatividade de Einstein, levaram a um conceito não-causal do cosmo, em que só é lícito adquirir conhecimento a partir de dados estatísticos, cálculos de probabilidade e conclusões parciais. Nada disso implica um retrocesso na validade do método científico, pois não se duvida que esse método assegurou enormes progressos tecnológicos, mas sim um reconhecimento, por parte da ciência, de sua incapacidade de dar respostas cabais sobre a natureza e a origem do universo.

Na segunda metade do século XX, os métodos de observação de alta precisão apresentaram notáveis progressos com o descobrimento do microscópio eletrônico, no qual as lentes foram substituídas por campos eletromagnéticos e a luz por um feixe de prótons, e dos microscópios de raios X e de ultra-som, com grande poder de resolução.

A reunião de disciplinas como a automação, destinada ao estudo e controle dos processos em que o homem não intervém diretamente, e a informática, ou conjunto de técnicas dedicadas à sistematização automática da informação, nasceram outras disciplinas como a robótica, que se ocupa do desenho e do planejamento de sistemas de manipulação a distância. Essa área de conhecimento teve aplicação, por exemplo, na astronáutica. Permitiu que o homem chegasse à superfície da Lua ou viajasse pelo espaço cósmico.

No campo da astronomia foram criadas disciplinas como a astronomia das radiações ultra-violeta e infravermelha, dos raios X, gama e outros. Esses progressos se devem aos conhecimentos da física nuclear, que permitiram descobrir uma enorme quantidade de fenômenos e de corpos celestes, como os buracos negros, objetos astrais de densidade elevada e que não emitem radiação, e os quasares, objetos semelhantes às estrelas que emitem radiações de grande intensidade.

A ciência moderna tem-se esforçado para obter novos materiais e fontes de energia alternativas para o carvão e o petróleo. O progresso da técnica permitiu a fabricação de semicondutores e dispositivos eletrônicos que conduziram aos computadores modernos. O domínio dos processos atômicos e nucleares possibilitou a construção de centrais elétricas e instrumentos de precisão. A aplicação de novas tecnologias na medicina e o maior conhecimento do corpo humano e de seus mecanismos proporcionaram uma melhora apreciável nas condições de vida dos habitantes do planeta


Ciência ou ciências?

No vasto domínio da experiência humana, a ciência ocupa incontestavelmente um lugar de destaque. É apontada como a responsável pelo prodigioso progresso das sociedades mais desenvolvidas e cada vez mais ocupa um lugar mítico no imaginário das pessoas. E se atendermos ao progressivo afastamento da prática científica da vida quotidiana e à auréola de mistério que envolve os seus praticantes, então podemos dizer que a ciência cada vez mais ocupa na nossa sociedade o lugar dos feiticeiros nas sociedades primitivas: confiamos cegamente nas suas práticas sem contudo as compreender adequadamente. Ela povoa cada vez mais o nosso quotidiano, cada vez nos tornamos mais dependentes das suas descobertas e cada vez mais difícil se torna a compreensão dos seus procedimentos. Utilizamos transistores e lasers sem percebermos o que é a mecânica quântica, utilizamos os satélites nas comunicações audiovisuais sem sabermos que é devido à teoria da relatividade que eles se mantêm em órbitas geoestacionárias.

Vamos, pois tentar, em primeiro lugar, compreender o que é o conhecimento científico, tendo em conta que a ciência é hoje uma realidade complexa e multifacetada, onde dificilmente se descobre uma unidade.

6.1 Características da ciência


Existem, no entanto, certo número de atributos ou características que normalmente associamos à ciência: ela parte da crença num universo ordenado, sujeito a leis acessíveis à razão; pretende encontrar as causas ocultas dos fenômenos visíveis, através de teorias que são submetidas ao crivo da experiência; as suas explicações procuram ser objetivas, isentas de emoções, visando o real tal como ele é.

Habituámo-nos a aceitar como naturais e credíveis as suas explicações para os mais variados problemas (mesmo que não compreendamos o alcance dessas explicações) e, naturalmente, consideramos desprovidas de rigor e menos legítimas as respostas dadas pela feitiçaria, pelas religiões, pelos misticismos (embora a atitude que temos para com a ciência, muito tenha de mítico-religioso). Todavia, a importância que hoje damos à ciência e aquilo que hoje se considera como sendo ciência, é o resultado de um longo processo evolutivo que tem as suas raízes históricas no pensamento mítico-religioso, e que traduz o modo como o homem ocidental se relaciona com o mundo à sua volta. Em certo sentido, podemos mesmo dizer que as características da ciência acabam por se clarificar no confronto com essas atitudes mitico-religiosas e face ao contexto cultural em que ela se foi afirmando historicamente (cf. texto de F. Jacob, Ciência e mito: características da ciência).

6.2 Unidade e diversidade das ciências


Nos séculos anteriores era relativamente fácil aos homens do saber dominar todas as áreas do conhecimento. Platão ou Aristóteles eram detentores de um saber tão diversificado que englobava os conhecimentos da época sobre a Matemática, a Física, a Psicologia, a Metafísica, a Literatura, etc. O mesmo acontecia, sem grandes alterações, na Idade Moderna. Só a partir, sobretudo do séc. XIX, e sob o impulso da industrialização, assiste-se a uma progressiva fragmentação do saber: na constante busca da novidade e da descoberta, vai-se especializando a tal ponto que dentro da mesma área pode haver tantas especializações que tornam impossível uma visão de conjunto dos problemas em questão. Porém os riscos que daí advém são grandes e cada vez mais se sente hoje a necessidade de grandes sínteses integradoras destes saberes dispersos (cf. texto de L. Geymonat, A especialização do saber científico).

6.3 Ciências "humanas" e ciências "exatas"

Essas sínteses deveriam aproximar não só os saberes da mesma área, mas também e, sobretudo os saberes mais voltados para as aplicações técnicas dos saberes que constituem habitualmente a chamada "cultura humanística". Em suma, é necessário o diálogo entre os engenheiros e os filósofos, entre os economistas e os sociólogos, entre os matemáticos e os psicólogos, na compreensão da especificidade de cada saber, aliando o tratamento especializado das chamadas "ciências exatas" com a visão globalizante dos problemas característicos das "ciências humanas" (cf. texto de Isabelle Stengers), a ciência pode ser descrita como um jogo a dois parceiros: trata-se de adivinhar o comportamento duma realidade distinta de nós, insubmissa tanto às nossas crenças e ambições como às nossas esperanças. Prigogine e Stengers

7.0 Ciência e reflexão filosófica

A filosofia tem desempenhado um papel determinante na clarificação de alguns problemas que surgem no decurso da prática científica. É a própria ciência que recorre à filosofia na tentativa de encontrar pela via da reflexão e do debate, resposta para os seus problemas. Mas o saber científico enquanto atitude e enquanto mentalidade caracterizada da cultura ocidental, implica da parte de toda a sociedade uma tomada de consciência daquilo que é a própria ciência e do que são as conseqüências dos seus procedimentos e aplicações práticas. E sendo verdade que cada vez mais o cidadão comum tem mais dificuldade em compreender o que é o domínio da ciência, quer devido à sua progressiva especialização quer devido à abstração crescente das suas abordagens, por isso mesmo se impõe a necessidade de pensar sobre os seus limites e as suas práticas.

7.1 Ciência e sociedade

Sendo a nossa sociedade tão fortemente dependente das descobertas científicas, torna-se pois necessário formular perguntas que equacionem a relação da ciência com a sociedade, e mais concretamente sobre o papel que essa ciência desempenha na vida das pessoas. É que apesar de vermos constantemente o nosso quotidiano invadido por produtos derivados das descobertas científicas, não é menos certo que a ciência não pode resolver todos os problemas que se colocam ao Homem. Não nos podemos pois iludir relativamente às potencialidades da ciência; devemos ter consciência dos seus limites, daquilo que ela pode ou não pode dar à sociedade (cf. texto de B. Sousa Santos, Um discurso sobre as ciências).

7.2 Ciência e cultura

Embora a dependência da nossa cultura face à ciência seja cada vez maior, não deixa porém de ser também verdade que o conhecimento que dela temos diminui na mesma proporção. É certo que o mundo do cientista se afasta cada vez mais do nosso quotidiano, e a progressiva especialização dos saberes implica abordagens progressivamente mais elaboradas, só acessíveis a uma minoria. (cf. texto de Alexandre Magro, O estranho mundo da ciência). Porém não podemos esquecer que a ciência é um produto cultural, sendo portanto necessário um crescente trabalho de divulgação científica, que assegure ao grande público um conjunto de referências científicas gerais, permitindo que ele se possa orientar melhor no mundo contemporâneo, protegendo-se de possíveis abusos ideológicos (cf. texto de J. Bronowski, Referências científicas e referências culturais).

7.3 Os limites de uma cultura científico-tecnológica


Fruto de um desconhecimento do que constitui a prática e as possibilidades da ciência, usualmente ela tem sido vista como a solução para todos os males, à semelhança de um deus que age de forma misteriosa. Ao longo do nosso século esta firme crença nas suas potencialidades não parou de aumentar e ela foi associada aos grandes sucessos da energia barata, do aumento da produção alimentar, da longevidade e do aumento da qualidade de vida resultantes dos grandes sucessos da medicina. Mas esta imagem risonha cedo mostrou o seu reverso e hoje, cada vez mais, a ciência tem sido associada a tudo que contribui para destruir a harmonia que existia entre o homem e a natureza (cf. texto de Rui Cardoso, Ciência: da esperança à desilusão).

Vários fatores contribuíram para esta alteração de atitude. O mais evidente, talvez, é a crescente degradação do ambiente devido à aplicação tecnológica e industrial dos produtos da investigação científica (cf. texto de H. Reeves, Desenvolvimento tecnológico e preocupações ecológicas). Todavia, o problema não seria apenas uma questão de aplicação da ciência por parte dos detentores do poder econômico: na própria ciência, certos pensadores vislumbram uma indisfarçavel vontade de domínio sobre a natureza (cf. texto de I. Prigogine e I. Stengers, Ciência: a vontade de poder disfarçada de vontade de saber). Esta questão não pode ser dissociada do problema das relações entre ciência, ética e política.

7.4 Ciência e política

Se por um lado as recentes investigações no campo da ciência fazem-nos temer o pior, existindo uma certa tendência para fazer do cientista o bode expiatório de todos os males da humanidade (cf. texto de Bronowski, O cientista acusado), por outro lado, felizmente, a opinião pública tem-se tornado progressivamente mais consciente e tem cada vez mais uma voz ativa nas decisões sobre a aplicação dos conhecimentos. Porém não podemos apenas pensar na ciência como uma propriedade e privilégio da cultura ocidental e, pelos vistos, as grandes descobertas da ciência não se têm traduzido numa melhoria global da qualidade de vida da humanidade em geral. A grande lição a tirar dos progressivos avanços científicos e tecnológicos deve-se traduzir numa profunda humildade e espírito crítico perante esses domínios. Estas questões merecem a atenção de responsáveis políticos como, por exemplo, o presidente da UNESCO (cf. entrevista de Federico Mayor Zaragoza, Ciência e desenvolvimento).

7.5 Ética e Ciência

Parece-nos claro também que é urgente um amplo debate sobre os limites éticos que devemos colocar à ciência. Com efeito, não cabe apenas aos cientistas ou aos políticos estabelecer as normas orientadoras da prática científica. Cabe a todos nós, cidadãos que terão que conviver com o produto das aplicações científicas, o papel de participar ativamente na definição do que consideramos bem ou mal do ponto de vista ético. E no campo das biotecnologias e da engenharia genética, muitos são os campos onde a polêmica se instala. Como por vezes a fronteira entre o que é eticamente aceitável ou condenável nem sempre é fácil de traçar, resta-nos apelar para a responsabilidade das pessoas envolvidas na tomada de decisões, convictos de que esta só será acertada se houver uma consciência clara dos riscos envolvidos, e uma preocupação em ouvir toda a comunidade interessada na definição do melhor caminho para todos (cf. texto de Jacques Delors, O primado da ética). Neste debate, as opiniões dos próprios cientistas merecem particular atenção, pois elas representam o pensamento daqueles que mais de perto lidam com os problemas inerentes à investigação científica (cf. texto: Os cientistas perante a ética).

7.6 Valor do espírito científico

Se forem evidentes os riscos mais ou menos diretamente relacionados com a ciência e os seus produtos, não podemos deixar de acentuar também os seus aspectos positivos. Mais uma vez, o mal da poluição, do subdesenvolvimento, do esbanjamento de recursos naturais, do aumento do fosso entre ricos e pobres pode não estar na ciência e na técnica, mas na sua aplicação. Se formos a ver bem, para começar, num mundo dominado por paixões políticas, por fundamentalismos, racismos e xenofobias, um pouco mais de frieza e objetividade científicas viriam a calhar (cf. texto de François Jacob, Espírito científico e fanatismo).

8.0 Conclusão


Estamos agora em condições de ter da atividade científica uma visão mais esclarecida. Podemos agora mais facilmente compreender as potencialidades da ciência e os seus limites, aquilo que ela pode ou não pode, deve ou não deve fazer. E se ela pode definir-se como a "organização do nosso conhecimento de tal modo que se apodera de uma parte cada vez mais considerável do potencial oculto da natureza", tal só é possível através da elaboração cuidadosa de teorias que pacientemente terão que ser submetidas à experimentação, na convicção porém de que as verdades conseguidas não passam de conjecturas cuja validade depende do acordo que mantêm com a realidade (cf. O estatuto do conhecimento científico). Por isso resta-nos acreditar nas possibilidades da ciência, convictos de que ela é um produto humano, e como tal, falível.

Os modelos teóricos que os cientistas vão elaborando terão então que ser vistos como uma das formas possíveis de descrever a realidade e não a única (cf. Os grandes mitos, As respostas dos filósofos e Ontologias da contemporaneidade), pois mesmo que esses modelos se tornem progressivamente mais completos, não deixam, porém de ser provisórios e falíveis e o progresso científico encarregar-se-á de o provar: as leis da gravitação universal de Newton mostraram-se válidas durante duzentos anos, mas a teoria da relatividade de Einstein mostrou as suas limitações e falibilidade (cf. texto de Bronowski, Ciência e realidade).

A ciência não pode responder a todas as interrogações que se colocam à Humanidade. A satisfação das necessidades de paz, de Justiça, de felicidade releva de escolhas e não do conhecimento científico.

Atividades:

(Para se publicado em seu blog)

Faça uma síntese por meio de organogramas da leitura do texto.

COMPONENTE CURRICULAR: FILOSOFIA 1º ANO A – B – 1º BIMESTRE

O Nascimento da Filosofia

Os historiadores da filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e inicio do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. E o primeiro filosofo foi Tales de Mileto.

Alem de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas outras, cosmos que significa mundo ordenado e organizado; e logia que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza, donde cosmologia.

Os padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos, não eram superstição nem primitivos e incultos, e por isso mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamento místico e oriental e, dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, que é uma religião oriental.

No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”. E muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar n filosofia como sendo o “milagre grego”.

Com a palavra “milagre” queriam dizer varias coisas
:

• Que a filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse;

• Que a filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio de um milagre;

• Que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a filosofia, como foram os únicos a criar as ciências de dar ás artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem antes nem depois deles.

O que perguntavam os primeiros filósofos

Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra arvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer à noite, o inverno parece fazer surgir à primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo?
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até ressecar-se e retorcer-se no inverno.

Por que a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da musica que antes me embalava, agora que estou doente, parece um ruído insuportável?
Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? Á água do copo, tão transparente e de boa temperatura, torna-se uma barra dura e gelada, deixa de ser liquida e transparente para tornar-se sólida e acinzentada.

Mas, também, por que tudo parece repetir-se? Depois do dia, à noite; depois da noite, o dia. Depois do inverno, a primavera, depois da primavera, o verão, depois deste, o outono e depois deste, novamente o inverno. De dia, o sol; à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, o mar é tranqüilo e propicio á navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. O calor leva as águas para o céu e as traz de volta pelas chuvas. Ninguém nasce adulto ou velho, mas sempre criança, que se torna adulto e velho.

Sem duvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativa, não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.

Os mitos foram, segundo Platão e Aristóteles, a matéria inicial de reflexão dos filósofos. Os mitos tornaram-se um campo comum da religião e da filosofia, revelando que a pretensa separação entre esses dois modos do homem interpretar a realidade não é tão nítida como aparentemente se julga.

Modernamente, é a disciplina ou a área de estudos que envolvem a investigação, a argumentação, a análise, discussão, formação e reflexão das ideias sobre o mundo, o Homem e o ser. Originou-se da inquietude gerada pela curiosidade em compreender e questionar os valores e as interpretações aceitas sobre a realidade dadas pelo senso comum e pela tradição.

As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento. Essas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração. Ocorreram inicialmente através da observação dos fenômenos naturais e sofreram influência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade, isto em conformidade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis em determinada época por um determinado grupo ou determinada relação humana. A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das idéias e utiliza-se de experimentos para interagir com a sua própria realidade.

Assim a partir da inquietação, o homem através de instrumentos e procedimentos equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão. São organizados os padrões de pensamentos que formulam as diversas teorias agregadas ao conhecimento humano. Contudo o conhecimento científico por sua própria natureza torna-se suscetível às descobertas de novas ferramentas ou instrumentos que aprimoraram o campo da sua observação e manipulação, o que em última análise, implica tanto a ampliação quanto o questionamento de tais conhecimentos. Neste contexto a filosofia surge como "a mãe de todas as ciências".

Podemos resumir que a filosofia consiste no estudo das características mais gerais e abstratas do mundo e das categorias com que pensamos: Mente (pensar), matéria (o que sensibiliza noções como quente ou frio sobre o realismo), razão (lógica), demonstração e verdade. Pensamento vem da palavra Epistemologia "Episteme" significa "ter Ciência" "logia" significa Estudo. Didaticamente, a Filosofia divide-se em:

• Epistemologia ou teoria do conhecimento: trata da natureza crença, da justificação e do conhecimento.
• Ética: trata do certo e do errado, do bem e do mal.
• Filosofia da Arte ou Estética: trata do belo.
• Lógica: trata da preservação da verdade e dos modos de se evitar a inferência e raciocínio inválidos.
• Metafísica ou ontologia: trata da realidade, do ser e do nada.

Definições dos filósofos sobre a filosofia

Em "Eutidemo" de Platão, é o uso do saber em proveito do homem, o que implica, 1º, posse de um conhecimento que seja o mais amplo e mais válido possível, e, 2º, o uso desse conhecimento em benefício do homem.

Para René Descartes, significa o estudo da sabedoria.

Para Thomas Hobbes, é o conhecimento causal e a utilização desses em benefício do homem.

Para Immanuel Kant, é ciência da relação do conhecimento finalidade essencial da razão humana, que é a felicidade universal; portanto, a Filosofia relaciona tudo com a sabedoria, mas através da ciência.

Para Friedrich Nietzsche, a filosofia "É a vida voluntária no meio do gelo e nas altas montanhas – a procura de tudo o que é estranho e problemático na existência, de tudo o que até agora foi banido pela moral." (Ecce Homo)
Para John Dewey, é a crítica dos valores, das crenças, das instituições, dos costumes, das políticas, no que se refere seu alcance sobre os bens ("Experience and Nature", p. 407).

Para Johann Gottlieb Fichte, é a ciência da ciência em geral.
Para Auguste Comte, é a ciência universal que deve unificar num sistema coerente os conhecimentos universais fornecidos pelas ciências particulares.
Para Bertrand Russell, a definição de "filosofia" variará segundo a filosofia que adotada. A filosofia origina-se de uma tentativa obstinada de atingir o conhecimento real. Aquilo que passa por conhecimento, na vida comum, padece de três defeitos: é convencido, incerto e, em si mesmo, contraditório. ("Dúvidas Filosóficas", p. 1)

Concepções de filosofia

Há três formas de se conceber a Filosofia:

• 1º) Metafísica: a Filosofia é o único saber possível, as demais ciências são parte dela. Dominou na Antiguidade e Idade Média. Sua característica principal é a negação de que qualquer investigação autônoma fora da Filosofia com validade, produzindo estas um saber imperfeito, provisório. Um conhecimento é filosofico ou não é conhecimento. Desse modo, o único saber verdadeiro é o filosófico, cabendo às demais ciências o trabalho braçal de garimpar o material sobre o qual a Filosofia trabalhará, constituindo não um saber, mas um conjunto de expedientes práticos.

Hegel afirmou: "uma coisa são o processo de origem e os trabalhos preparatórios de uma ciência e outra coisa é a própria ciência."

• 2º) Positivista: o conhecimento cabe às ciências, à Filosofia cabe coordenar e unificar seus resultados. Bacon atribui à Filosofia o papel de ciência universal e mãe das outras ciências. Todo o iluminismo participou do conceito de Filosofia como conhecimento científico.

• 3º) Crítica: a Filosofia é juízo sobre a ciência e não conhecimento de objetos, sua tarefa é verificar a validade do saber, determinando seus limites, condições e possibilidades efetivas. Segundo essa concepção, a Filosofia não aumenta a quantidade do saber, portanto, não pode ser chamada propriamente de "conhecimento".

Definição da filosofia e metafilosofia


A palavra "filosofia" ganha, em dimensões específicas de tempo e espaço, formas novas e diferenciadas tornando difícil sua definição. São muitas as discussões sobre sua definição e seu objeto específico. Definir a filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica. Em outras palavras, é fazer uma filosofia da filosofia. Aqui se vê que a melhor maneira de se abordar inicialmente a filosofia talvez não seja definindo-a, pois tal definição já exige alguma filosofia.

Esse problema devia ser visto em toda sua seriedade. Não há como se definir sem que se tenha alguma compreensão dada de definição, do mesmo modo que não há como responder adequadamente a uma pergunta, se não parte de uma compreensão dada de pergunta e resposta. (Sobre a filosofia do perguntar ver Martin Heidegger, Ser e tempo, §2.)

Historicamente, a filosofia é conhecida por ser difícil de definir com precisão, não conseguindo a maioria (se não todas) das definições cobrirem tudo aquilo a que se chama filosofia.

Há outros modos de se chegar a uma concepção da filosofia, mesmo sem uma definição.
À falta de uma definição "definitiva", as introduções à filosofia geralmente apostam em apresentar uma lista de discussões e problemas filosóficos, e uma lista de questões que não são filosóficas.

Algumas questões filosóficas incluem, por exemplo, "O que é o conhecimento?", "Será que o homem pode ter livre arbítrio?", "Para que serve a ciência?" ou, até mesmo, "O que é a filosofia?". A forma de responder a estas questões não é, por seu lado, uma forma científica, política ou religiosa, nem muito menos se trata de uma investigação sobre o que a maioria das pessoas pensa, ou do senso comum. Envolve, antes, o exame dos conceitos relevantes, e das suas relações com outros conceitos ou teorias.

O método da listagem de discussões e problemas filosóficos tem sua limitação: o limite, é o próprio ser. Por si só, ele (o método) não permite que se veja o que unifica os debates e as discussões. É por isso, talvez, que os filósofos não costumam apelar a esse método. Ao invés disso apresentam imagens da filosofia.
Imagens da filosofia

Alguns filósofos apresentaram a filosofia através de quadros, ou imagens:
• A principal característica que Aristóteles vê num filósofo é que ele não é um especialista. O sophós (o sábio, tomado aqui como sinônimo de filósofo), é um conhecedor de todas as coisas sem possuir uma ciência específica. O seu olhar derrama-se pelo mundo, sua curiosidade insaciável o faz investigar tanto os mistérios do kosmos (o universo) como o da physis (a natureza), como as que dizem respeito ao homem e à sociedade. No fundo, o filósofo é um desvelador, alguém que afasta o véu daquilo que está a encobrir os nossos olhos e procura mostrar os objetos na sua forma e posição original, agindo como alguém que encontra uma estátua jogada no fundo do mar coberta de musgo e algas, e gradativamente, afastando-as uma a uma, vem a revelar-nos a sua real forma.

• Para Platão, a primeira atitude do filósofo é admirar-se. A partir da admiração faz-se a reflexão crítica, o que marca a filosofia como busca da verdade. Filosofar é dar sentido à experiência.

• Segundo Whitehead, a filosofia ocidental é uma nota de rodapé à obra de Platão.

• Para Wittgenstein, a filosofia é uma espécie de terapia através da qual o sujeito, embaralhado pela metafísica, volta a utilizar as palavras no seu sentido empírico.

• Para Strawson, a filosofia é um análogo da gramática. Assim como a gramática de uma língua natural explicita as regras que os falantes seguem implicitamente, a filosofia explicita os conceitos-chave que seguimos implicitamente (vide "A Filosofia como Gramática Conceptual" de P.F. Strawson).

• Para Richard Rorty, no espírito da posição de Whitehead, a filosofia ocidental é um gênero literário.

Etimologia

Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Assim, o "filósofo" seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.

A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a criação da palavra.

Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

Segundo alguns autores, a palavra « philosophía » não é uma construção moderna a partir do grego, mas sim um empréstimo à língua grega ela mesma. Enquanto os termos («philosophos») («philosophein») estão documentados junto aos pré-socráticos Heráclito, Antífones, Górgias e Pitágoras, assim como junto a outros pensadores como Tucídide ou Heródoto, a («philosophía») deve sua paternidade a Platão o qual de fato se tornou, após Monique Dixsaut, um sinônimo de («filomatia»).

Tradições filosóficas


Entre os povos que desenvolveram escritas fonéticas ou ideogramáticas, as principais tradições filosóficas são a filosofia indiana, a filosofia chinesa e a filosofia ocidental.

É provável que povos que não desenvolveram tais tipos de escrita também tivessem algum tipo de tradição filosófica. O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro ("Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena", capítulo 7 de A inconstância da alma selvagem, São Paulo, Cosac & Naify, 2002) aponta para o fato de encontrarmos pontos de vista perspectivistas entre os ameríndios desde a Terra do Fogo até o Alasca, por exemplo. (Para saber mais sobre o estudo dos pressupostos do pensamento indígena veja o Projeto AmaZone.)

Pensamento mítico e pensamento filosófico


A Morte de Sócrates, Jacques-Louis David, 1787.
Histórica e tradicionalmente, a filosofia se inicia com Tales de Mileto. Ele foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos a buscarem explicações de todas as coisas através de um princípio ou origem causal (arché) diferentemente do que os mitos antes mostravam.

Ao apresentarem explicações fundamentadas em princípios para o comportamento da natureza, os pré-socráticos chegaram ao que pode ser considerado uma importante diferença em relação ao pensamento mítico. Nas explicações míticas, o explicador é tão desconhecido quanto a coisa explicada. Por exemplo, se a causa de uma doença é a ira divina, explicar a doença pela ira divina não nos ajuda muito a entender porque há doença.

INTRODUÇÃO

Eu acho a mitologia um assunto fascinante, apesar de não saber muito sobre ele. Com este trabalho, procurarei entender quais as principais funções que os mitos tinham, e por que eles eram tão importantes para os gregos.

Os mitos acima de tudo organizavam as comunidades e formavam o ser pessoal dos cidadãos. Neste trabalho eu tentarei explicar e acima de tudo entender como e por que isto ocorria.

EXPLIQUE O SIGNIFICADO DOS MITOS PARA OS GREGOS.

OS MITOS TINHAM OUTRA FUNÇÃO ALEM DA RELIGIOSA.
VOCÊ ACHA QUE O MITO ERA UMA EXPLICAÇÃO IRRACIONAL DO MUNDO?

"À história, prefiro a mitologia.
A história parte da verdade e ruma em mentira;
Mitologia parte da mentira e se aproxima da verdade."
Esta é uma frase anônima. Eu concordo com ela em vários pontos.
A mitologia foi uma forma encontrada para se compreender o mundo e entender coisas que para aquela época eram quase impossíveis de se entender: O que é a terra, por que ela existe, quem somos nós, por que estamos aqui e o que acontecerá quando morrermos.

A mitologia dava respostas para estas perguntas. Eram respostas falsas, mas satisfaziam a curiosidade das pessoas. Muita destas perguntas não tem resposta até hoje.

Sempre ficou muito claro na mitologia que os deuses não gostavam dos humanos, nós éramos apenas "brinquedinhos" deles. Mas por quê? Será que isso não seria uma explicação para os seres humanos entenderem por que às vezes a vida e tão dura, tudo dá errado, e também para compreender por que existia tanto sofrimento, tanta dor, tanta injustiça?

E as Mouras? Não seria a explicação para todas aquelas vezes em que por mais que a pessoa tivesse lutado, batalhado e sofrido, ela não tivesse alcançado seus objetivos? Ao invés de se considerar um perdedor, talvez fosse mais fácil dizer que não existia a vontade humana, apenas a vontade divina.

Os mitos foram muito importantes para toda a sociedade daquela época, pois sempre foi essencial para o homem saber suas origens e a origem do mundo. E os mitos além da função religiosa tinham também esta função: Explicar o incompreensível.
Voltando a aquela frase do começo do trabalho:

A mitologia se aproxima demais da realidade, pois sem a realidade os mitos não existiam, já que estes são explicações de uma difícil realidade.

Os deuses eram muito parecidos com os homens não só fisicamente. Nós sabemos que os deuses eram considerados muito mais inteligentes do que os homens, mas acontece que os sentimentos e as representações dos deuses eram todos refletidos em nós.
Se acontecia uma peste, por exemplo, era por que algum deus estava descontente com os humanos, e logo isto refletia na sociedade.

A mitologia tentava esclarecer entre tantas coisas os fenômenos naturais da terra.
Os deuses eram figuras individuais com aspectos humanos, que recebiam uma força maior do além. E muito raramente eles usavam estas forças para beneficiar os humanos. Como eu já disse antes, os deuses não gostavam de nós.

Com os recursos da época, era praticamente impossível descobrir a origem do mundo. Com os mitos, isso foi possível. Para os gregos, segundo Hesiodo, no poema TEOGONIA, tudo começou com o Caos, e a partir dele surgiu Nyx, a noite, e Gaya, a terra.

Partindo deste fato, foi surgindo toda uma teoria mitológica das origens não só do mundo, mas de tudo, como o surgimento do homem, do tártaro, dos deuses, etc.

Portanto podemos assim concluir que os mitos eram uma explicação irracional do mundo. Eles só seriam racionais a partir do momento em que o homem separasse o espirito da razão, que no momento não era o caso. Eles eram a única forma dos gregos conhecerem a origem deles próprios, mesmo sendo uma origem falsa. Eles acreditavam em seus mitos, e isso era o mais importante. É obvio que eles não sabiam que os mitos existiam principalmente para desvendar tais mistérios, para eles aquilo era verdade e pronto.

Era muito importante para a sociedade daquela época que os deuses fossem parecidos com eles. Para eles, eles eram reflexos inferiores dos deuses. Mas na verdade os deuses que eram reflexos superiores a eles. Os deuses eram como se fossem seres humanos perfeitos, sem os problemas banais do homem, e com uma força do alem muito forte. Eles não tinham que trabalhar para conseguir comida e nem para sustentar uma família. Também não precisavam desvendar os mistérios da vida. Eles sabiam tudo.
Eu tenho a impressão que a morte era uma coisa que assustava demais os gregos, por eles não a entenderem. Um dos fatos que me faz pensar assim, e o que os gregos pensavam que acontecia com você quando você morria.

Independente de você ter sido bom ou ruim, você ia para o inferno (Tártaro) só com o corpo, pois sua alma evaporava. Você não iria ser mais nada: Estava condenado ao sofrimento eterno.

Os deuses não tinham este problema, uma vez que eram imortais.

A CONTRIBUIÇÃO DOS MITOS PARA COM A SOCIEDADE

Os mitos contribuíam para que houvesse uma integração à vida social e política das pessoas. Os mitos que organizavam as leis e regras de uma comunidade. Se alguém desrespeitasse alguma destas leis ou regras, isto não refletia nele como pessoa, mas sim em todos como sociedade. Por exemplo, se uma pessoa deixasse de fazer um culto a um deus, este deus não ficaria bravo e se "vingaria" da pessoa, e sim da comunidade aonde esta pessoa vivia. Este era um fator que contava para que todos fizessem seus cultos aos seus deuses.

Os mitos eram tão importantes que até as pessoas que não participavam do polis (Escravos e mulheres) encontraram um espaço, assim desenvolvendo uma religião própria, o dionisismo.

Os mitos funcionavam meio que como a lei dos lugares. Por exemplo, em certa comunidade eles falavam que quem roubasse de outra pessoa ia ser punido pelos deuses, logo eles não roubavam.

Se uma pessoa cometesse uma falta muito grave e fosse expulsa de sua comunidade, ela perdia o seu ser social, isto é, perdia suas raízes. Para ela ser aceita em outra sociedade e voltar a ser alguém, ela tem que através desta nova sociedade pedir para os deuses para ser aceito. Não era fácil mudar de comunidade, pois cada uma tinha seus cultos e culturas. Os mitos variavam de cidade em cidade. Não que eles fossem inteiramente diferentes: Apenas algumas características mudavam assim como as oferendas a eles feitas. A pessoa que mudava de cidade também teria de acreditar em coisas diferentes do que as outra em que ela estava habituada. As cidades eram formadas para algum mito. Por isto também que os mitos eram importantes para a formação da sociedade.

COMO FUNCIONAVAM OS MITOS DENTRO DA SOCIEDADE


Para pedir qualquer permissão a um deus sobre algum assunto, não era qualquer pessoa que podia fazer isto, e sim aquelas que faziam parte da magistratura, pois elas também faziam parte do sarcedócio.

Os deuses eram invisíveis, e por melhores que fossem as representações deles, elas não tinham muita validade, pois os mitos traspassavam qualquer representação. Os deuses eram oniscientes e onipresentes, isso é eles estavam em todos os lugares a todos os momentos e sabiam de tudo o que estava acontecendo.

As figuras mitológicas eram perfeitas. Eles tinham traços humanos e representavam coisas bem delineadas. Zeus por exemplo, além de ser o deus dos deuses, era o deus do juramento, do contrato, da chuva, etc.

A grande diferença entre um Deus e um ídolo, é que o ídolo é a pessoa até quando ela é ela mesma, já o mito não. Por exemplo, hoje em dia o Pelé é considerado um mito, pois além de ser o melhor jogador de futebol, ele é considerado o melhor atleta, o mais honesto, etc. Isso é, ele superou-se e superou a todos.

DO MITO A RAZÃO

O homem deixa de acreditar nos mitos quando ele percebe a separação da razão e do espírito, assim descobrindo a ciência. Ele passa a ver que as coisas não acontecem por que Zeus quer, e sim por que ela tem certa lógica.

A partir destes pensamentos constrói a filosofia, que é muito importante para que o homem entenda por que ele vive, por que esta aqui, etc.

CONCLUSÃO

Geralmente quando as pessoas falam em mito, elas não imaginam que por detrás destes mitos existia um grande pano de fundo, que cobria toda a organização política e social e toda a formação dos caracteres pessoais de uma comunidade. Com este trabalho eu aprendi que mitologia é muito mais do que uma simples religião. Ela fez tudo isso e muito mais.

Mas a partir do momento que o homem descobre que a razão e o espírito não estão juntos, toda a "teoria" dos mitos desaba; Ai esta fundada a filosofia.
Eu acho que a mitologia foi muito importante para aquelas comunidades, pois ela tentou e conseguiu esclarecer várias dúvidas deles.

As origens do pensamento grego

Para entendermos o surgimento da filosofia, se faz necessário a história de formação da Grécia, onde nasceu a ‘amizade pelo saber’ (pela sabedoria).

Depois dos pré-socráticos

Platão é quem inicia esta nova linguagem, a filosofia como a conhecemos, a busca da essência, a ontologia dos conceitos universais em detrimento do conhecimento vulgar e sensorial.

Por muito tempo a Filosofia concebia tudo o que era conhecimento, basta ver a vasta obra de Aristóteles, que abrange desde a física até a ética. Ainda hoje é difícil definir o objeto exato da filosofia.

Seus objetos próprios são:

• Metafísica: Concerne os estudos daquilo que não é físico (physis), do conhecimento do ser (ontologia), do que transcende o sensorial e também da teologia.

• Epistemologia: Estudo do conhecimento, teoriza sobre a própria ciência e de como seria possível a apreensão deste conhecimento.

• Ética: Para Aristóteles, é parte do conhecimento prático já que nos mostraria como devemos viver e agir.

• Estética: A busca do belo, sua conceituação e questionamento. O entendimento da arte.

• Lógica: A busca da verdade, seu questionamento, a razão.


Texto de: Marilena Chaui (modificado por nós)

FILOSOFIA

Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.

Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir - não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ou "atletas intelectuais"; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la.

* A FILOSOFIA É GREGA


A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego.

Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.

Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.

Vejamos um exemplo. Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência de coisas, seres e ações contrários ou opostos, que formam a realidade. Deram às oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o frio e a umidade; Yang é o princípio masculino ativo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as coisas, que, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade masculina e da passividade feminina.

Tomemos agora um filósofo grego, por exemplo, o próprio Pitágoras. Que diz ele? Que a Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções matemáticas produzidas a partir da unidade (o número 1 e o ponto), da oposição entre os números pares e ímpares, e da combinação entre as superfícies e os volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e combinações aparecem para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades contrárias: quente-frio, seco-úmido, áspero-liso, claro-escuro, grande-pequeno, doce-amargo, duro-mole, etc. Para Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática, enquanto nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o modo como a estrutura matemática da Natureza aparece para nós, isto é, sob a forma de qualidades opostas.

Qual a diferença entre o pensamento chinês e o do filósofo grego?
O pensamento chinês toma duas características (masculino e feminino) existentes em alguns seres (os animais e os humanos) e considera que o Universo inteiro é feito da oposição entre qualidades atribuídas a dois sexos diferentes, de sorte que o mundo é organizado pelo princípio da sexualidade animal ou humana.

O pensamento de Pitágoras apanha a Natureza numa generalidade muito mais ampla do que a sexualidade própria a alguns seres da Natureza, e faz distinção entre as qualidades sensoriais que nos aparecem e a estrutura invisível da Natureza, que, para ele, é de tipo matemático e alcançada apenas pelo intelecto, ou inteligência.

São diferenças desse tipo, além de muitas outras, que nos levam a dizer que existe uma sabedoria chinesa, uma sabedoria hindu, uma sabedoria dos índios, mas não há filosofia chinesa, filosofia hindu ou filosofia indígena.

Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.

Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.

Aliás, basta observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia, física, diálogo, biologia, cronologia, gênese, genealogia, cirurgia, ortopedia, pedagogia, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebermos a influência decisiva e predominante da Filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições das sociedades européias ocidentais.

É por isso que, em decorrência do predomínio da economia capitalista criada pelo Ocidente e que impõe um certo tipo de desenvolvimento das ciências e das técnicas, falamos, por exemplo, em "ocidentalização dos chineses", "ocidentalização dos árabes", etc. Com isso queremos significar que modos de pensar e de agir, criados no Ocidente pela Filosofia grega, foram incorporados até mesmo por culturas e sociedades muito diferentes daquela onde nasceu a Filosofia.

É pelo mesmo motivo que falamos em "orientalismos" e "orientalistas" para indicar pessoas que buscam no budismo, no confucionismo, no Yin e no Yang, nos mantras, nas pirâmides, nas auras, nas pedras e cristais maneiras de pensar e de explicar a realidade, a Natureza, a vida e as ações humanas que não são próprias ou específicas do Ocidente, isto é, são diferentes do padrão de pensamento e de explicação que foram criados pelos gregos a partir do século VII antes de Cristo, época em que nasce a Filosofia.

* O LEGADO DA FILOSOFIA GREGA PARA O OCIDENTE EUROPEU

Por causa da colonização européia das Américas, nós também fazemos parte - ainda que de modo inferiorizado e colonizado - do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a Filosofia grega deixou para o pensamento ocidental europeu.

Desse legado, podemos destacar como principais contribuições as seguintes:

• A idéia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é, os mesmos em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por exemplo, graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o filósofo inglês Isaac Newton estabeleceu a lei da gravitação universal de todos os corpos da Natureza.
A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a ação de um outro, produz uma reação igual e contrária, que pode ser calculada usando como elementos do cálculo a massa do corpo afetado, a velocidade e o tempo com que a ação e a reação se deram.

Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é universal, isto é, válida para todos os corpos em todos os tempos e lugares.

Um outro exemplo: as leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme demonstraram os filósofos gregos, são universais e necessárias, isto é, seja em Tóquio em 1993, em Copenhague em 1970, em Lisboa em 1810, em São Paulo em 1792, em Moçambique em 1661, ou em Nova York em 1975, as leis do triângulo ou do círculo são necessariamente as mesmas.

• A idéia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode alcançar.

• A idéia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso. Em outras palavras, a idéia de que o nosso pensamento é lógico ou segue leis lógicas de funcionamento.

Nosso pensamento diferencia uma afirmação de uma negação porque, na afirmação, atribuímos alguma coisa a outra coisa (quando afirmamos que "Sócrates é um ser humano", atribuímos humanidade a Sócrates) e, na negação, retiramos alguma coisa de outra (quando dizemos "este caderno não é verde", estamos retirando do caderno a cor verde).

Nosso pensamento distingue quando uma afirmação é verdadeira ou falsa. Se alguém apresentar o seguinte raciocínio: "Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal", diremos que a afirmação "Sócrates é mortal" é verdadeira, porque foi concluída de outras afirmações que já sabemos serem verdadeiras.

• A idéia de que as práticas humanas, isto é, a ação moral, a política, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferências, segundo certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que lhes teriam sido feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossíveis de serem conhecidas.

• A idéia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários, porque obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas.

Dessa forma, uma pedra cai porque seu peso, por uma lei natural, exige que ela caia natural e necessariamente; um ser humano anda porque as leis anatômicas e fisiológicas que regem o seu corpo fazem com que ele tenha os meios necessários para a locomoção.

No entanto, se uma pedra, ao cair, atingir a cabeça de um passante, esse acontecimento é contingente ou acidental. Por quê? Porque, se o passante não estivesse andando por ali naquela hora, a pedra não o atingiria. Assim, a queda da pedra é necessária e o andar de um ser humano é necessário, mas que uma pedra caia sobre minha cabeça quando ando é inteiramente contingente ou acidental.

Todavia, é muito diferente a situação das ações humanas. É verdade que é por uma necessidade natural ou por uma lei da Natureza que ando. Mas é por deliberação voluntária que ando para ir à escola em vez de andar para ir ao cinema, por exemplo. É verdade que é por uma lei necessária da Natureza que os corpos pesados caem, mas é por uma deliberação humana e por uma escolha voluntária que fabrico uma bomba, a coloco num avião e a faço despencar sobre Hiroshima.

Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo - "tudo é necessário, temos que nos conformar e nos resignar" -, mas também evitar a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extranatural ou sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que podemos conhecer e nem tudo é possível por mais que o queiramos.

• A idéia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, à felicidade, à justiça, isto é, que os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mas criam valores pelo quais dão sentido às suas vidas e às suas ações.
A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos.

Atividades:
(Para ser publicado em seu blog)

Destaque os pontos importantes do texto por meio de organograma e publique em seu blog.

COMPONENTE CURRICULAR: SOCIOLOGIA 3º ANO A MATUTINO - 1º BIMESTRE

ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO

O que é trabalho?

A palavra trabalho deriva do latim tripalium, objeto de três paus aguçados utilizado na agricultura e também como instrumento de tortura. Mas ao trabalho associamos a transformação da natureza em produtos ou serviços, portanto em elementos de cultura. O trabalho é desse modo, o esforço realizado, e também a capacidade de reflexão, criação e coordenação.

Ao longo da história, o trabalho assumiu múltiplas formas. Um importante pensador sobre esse assunto foi Karl Marx. Para esse autor, o trabalho, fruto da relação do homem com a natureza, e do homem com o próprio homem, é o que nos distingue dos animais e move a História.
Mas o trabalho no mundo capitalista assumiu uma forma muito específica: o emprego assalariado. Como isso acontece? Quais as consequências desse modelo?

Se refletirmos sobre esse questionamento acima, percebemos que o trabalho assalariado está diretamente estabelecido a partir da divisão social do trabalho. As diferenças dos trabalhos realizados, bem como as distinções salariais, são resultados dessa divisão.

O poema “Operário em Construção”, de Vinícius de Moraes, retrata bem como a construção do Brasil dependeu da mão de obra da classe menos favorecida que, no entanto, não usufruiu do fruto de seu trabalho. Nesse sentido, podemos fazer também uma reflexão sobre essa realidade bem comum em nossa sociedade.

As leituras de sala que tratam sobre a organização social do trabalho nos ajudarão a desenvolver as atividades a seguir.

ATIVIDADES:

(Poste em seu blog)

1) Pesquise sobre as formas de divisão social do trabalho nas diversas organizações sociais existentes na historia da humanidade.

2) Sobre a mulher no trabalho, escreva e ilustre as conquistas e dificuldades sofridas pela mulher na sociedade.

3) Escreva e ilustre sobre o trabalho escravo/indígena e infantil no Brasil.

sexta-feira, 18 de março de 2011

CONTINUAÇÃO - SOCIOLOGIA - 1º BIMESTRE - 2º A MATUTINO

A década de 1930 e o surgimento da análise sociológica brasileira

Geração de 30

A sociologia, como atividade voltada para o conhecimento sistemático da sociedade, só aparece na década de 30 com a fundação da Universidade de São Paulo, embora o pensamento sociológico já exista no Brasil desde o final do século XIX, desenvolvido por Euclídes da Cunha em sua obra Os Sertões e nas idéias abolicionistas e republicanas.

Nessa época uma das preocupações em geral dos intelectuais era o interesse da descoberta do Brasil verdadeiro, contradizendo aquela visão etnocêntrica dos europeus. Buscavam também desenvolver e modernizar a estrutura social brasileira.
Os intelectuais desse período ficaram conhecidos como geração de 30, dentre eles podemos destacar:

Gilberto Freire

Gilberto de Melo Freire nasceu em Recife-PE em 1900. Sua obra representou um divisor de águas na evolução cultural do Brasil e contribuiu para que o país encarasse com mais confiança seu papel no mundo moderno.

Fez sua pós-graduação nas universidades norte-americanas de Baylor (Waco, Texas) e Colúmbia (Nova York) onde esteve sob a influência de Frans Boas. Ao término do curso apresentou em 1922 a tese: Social live in Brazil in the middle of 19th century (A vida social no Brasil em meados do século XIX), que mais tarde se transformaria em seu famoso livro Casa-Grande & Senzala, publicado em 1932, tendo um impacto tão grande quanto Os Sertões de Euclides da Cunha. Nesta obra, Freire imprime sua visão poderosa e original dos fundamentos da sociedade brasileira, descreve com objetividade a contribuição do negro e o fenômeno da miscigenação na formação social do Brasil.

1.2- Caio Prado Júnior

Caio Prado vinha de uma das famílias mais ricas e conceituadas do Brasil naquela época. Ele procurava formalizar o método marxista para análise da realidade brasileira. Em seu livro Evolução política do Brasil (1933) interpretava a situação político-colonial brasileira a partir das relações internacionais capitalistas e seu mecanismo comercial, desde a expansão marítima européia.

Depois de uma viagem a União Soviética, em 1938, ele publicou, URSS: um novo mundo, desde então se torna militante de esquerda, assumindo a presidência da Aliança Nacional Libertadora, em São Paulo, motivo este de sua prisão e exílio (1935-1939). Ao voltar ao Brasil, publicou mais duas obras de grande repercussão nacional, Formação do Brasil Contemporâneo (1942) e Historia Econômica do Brasil (1945).

1.3- Plínio Salgado

Destacou-se pelo seu integralismo, com um movimento nacionalista, anticomunista, antiliberal e anti-semita. Via com desconfiança não só o movimento modernizador da sociedade, mas como também o liberalismo e o marxismo.

Depois de uma viagem a Itália em 1930 onde conheceu Mussolini, voltou decidido a fundar um movimento fascista no Brasil. Já em 1932 publica o Manifesto de Outubro e participa da fundação da Ação Integralista Brasileira (AIB) que seria o meio de compatibilizar os aspectos dicotômicos da sociedade brasileira que, segundo ele, era estreitamente dualista.


1.4- Fernando de Azevedo


Mineiro de São Gonçalo de Sapucaí, em São Paulo, participa da fundação da Universidade de São Paulo, que, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, ocupou a cadeira de Sociologia e foi diretor da mesma.

Antes na década de 20 foi responsável pela reforma do ensino no país a partir de experiências feitas no Rio de Janeiro e no Ceará. Ao mesmo tempo aristocrata e humanista, unia os anseios liberais e moderadamente socialistas. Em sua principal obra, A cultura brasileira, retoma a tese de uma unidade nacional baseada em diferenças regionais, culturais e éticas.

Sérgio Buarque de Hollanda


Inspirando-se na tese de Ribeiro Couto, que identificava o brasileiro como “homem cordial”, Sérgio realizou uma pesquisa de primeira mão, na intenção de negligenciar a interpretação dos fatos. Foi nessa documentação que ele se baseou para editar, em 1936, uma de suas principais obras, Raízes do Brasil, a qual o tornou autoridade internacionalmente reconhecida sobre assuntos do Brasil colônia.

Foi um dos pioneiros a utilizar na análise histórica brasileira o método tipológico de Marx Weber.

Em sua obra, Visão do paraíso (1959) consegue pela primeira vez intervir na visão estereotipada que os europeus tinham do Brasil.

Atividade:

Faça um esquema dos autores da geração de 30 destacando: (Publique em seu blog)
• Autor e a relevância de suas obras.


Fundação da Escola Livre de Sociologia e Política e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.


A sociologia, como atividade autônoma voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, só vem aparecer no Brasil na década de 30 com a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política, que sofria forte influência norte-americana. E também da Universidade de São Paulo com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que se dedicava a estudos orientados pela sociologia européia, em destaque a francesa.

Ambas tiveram lecionando em seus âmbitos acadêmicos, professores vindos do exterior para a formação profissional de vários cientistas sociais. Na USP esteve no corpo docente a chamada “missão francesa” Lévi-Strauss, Georges Gurvitch, Roger Bastide, Paul Arbousse-Bastide, Fernand Braudel, entre outros. Já para Escola Livre de Sociologia e Política vieram Donald Pierson e Radcliffe-Brown, trazendo toda metodologia sociológica norte americana.

Foi de imensa importância a vinda desses intelectuais ao Brasil, que gerou um grupo de sociólogos que passaram a desenvolver todo conhecimento adquirido em pesquisas já no fim da década de 40, entre eles Maria Isaura Pereira de Queiroz, Ruy Galvão de Andrada Coelho, Florestan Fernandes, Antonio de Mello e Souza e Gilda de Mello e Souza, entre outros.

Década de 40

Esse foi um dos momentos mais críticos da história da humanidade, pois acontecia a Segunda Grande Guerra Mundial, que consolidou os EUA e a URSS como duas potencias mundiais opostas, tornando o mundo bipolar.

Nessa época, o Brasil adquiria uma consciência crítica de sua realidade, complexidade e particularidade. Onde se buscava o nacionalismo. Portanto, integração e mudanças eram temas recorrentes na sociologia do pós-guerra.

Não só o Brasil, mas diversos países latino-americanos receberam “cronistas viajantes”, assim descritos por Octávio Ianni, que nada mais eram do que intelectuais estrangeiros, que fugindo da guerra na Europa, procuravam estruturas sociais diferentes, sociedades que, por sua diversidade, poderiam realizar uma linha de raciocínio diferente daquela já conhecida.

Emílio Willems tem uma grande importância nessa época, devido à sua obra, Assimilação e populações marginais no Brasil, um estudo sociológico sobre a contribuição dos imigrantes germânicos e seus descendentes na história brasileira, que destaca situações de estudo brasileiras. Mas este interesse não se resumiu somente a ele, haviam também muitos jovens sociólogos interessados em avaliar a mobilidade social de diferentes grupos étnicos como negros, brancos, migrantes, imigrantes de diferentes nacionalidades, alemães, libaneses, japoneses, italianos.

Ele também teve grande importância na sociologia brasileira, junto com Romano Barreto fundaram a revista Sociologia, que exerceu um papel importantíssimo na divulgação da Sociologia alemã, já que traduzia os artigos dos sociólogos alemães para a Revista, dedicando-se especialmente a obra de seu professor, Richard Thurnwald.

Atividade: (Publique em seu blog)

Faça um esquema dos autores da geração de 40 destacando:
• Autor e a relevância de suas obras.

3. A sociologia brasileira na década de 50

A segunda guerra mundial trouxe profundas desestruturações na sociologia mundial. Diversos intelectuais europeus migraram para a América em busca de novos ares para produzirem suas obras. Esses “cronistas viajantes” efervesceram o cenário sociológico, pois acharam aqui um panorama totalmente diferente da realidade de onde viviam.

Esse período foi de grande importância para o desenvolvimento das ciências da sociedade, pois temas sócio-econômicos eram explorados por pensadores que tem uma grande repercussão até os dias de hoje, são eles: Florestan Fernandes e Celso Furtado.

3.1- Florestan Fernandes


Florestan Fernandes estudou na USP, onde teve grande influencia de Roger Bastide, que desenvolveram em parceria um estudo sobre negros e a questão racial no Brasil, que originou umas de suas mais prestigiadas obras, A integração do negro na sociedade de classes.

Florestan pregava a “sociologia militante”, que visava unir a teoria com a prática, logo, teve uma grande influência de Marx, a busca em conciliar a teoria e a ação prática foi uma grande marca em sua vida. Ele entendia que a sociedade devia ser estudada pelos fundamentos de sua organização e ocorrências históricas, os dilemas ressaltados, motivo de sua concepção de análise, que por muitos foi definida como “histórico-cultural”. Na visão florestaniana a sociedade brasileira, por ter uma formação histórica peculiar, exigia uma abordagem com traços nítidos e definidos no estudo das relações sociais.

Dentre suas diversas obras podem destacar: A integração do negro na sociedade de classes; A revolução burguesa no Brasil; Fundamentos empíricos da explicação sociológica; e A sociologia numa era de revolução social.

3.2- Celso Furtado


Um dos grandes nomes do pensamento econômico, não só do Brasil, mas como em toda a America Latina, sem duvida foi Celso Furtado. Desenvolveu diversos trabalhos na área econômica, principalmente em parceria com a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), criando assim a escola “cepaliana”. É considerado o pai da economia política brasileira. Antes dele, o pensamento econômico brasileiro era formado por esquemas interpretativos, como o estabelecimento dos preços e a lei da oferta e da procura, as quais defendiam o interesse das classes dominantes.

Porém, Furtado vem desmistificar toda essa ideologia, propondo uma interpretação histórica da realidade econômica. Defendia que o subdesenvolvimento não correspondia a uma etapa histórica, mais sim de formação econômica influenciada pelo capitalismo internacional, analisava situações de países onde havia um notável desenvolvimento industrial e o estágio agrário não tinha sido superado, como o caso da maioria dos países latino-americanos.

Durante o governo de Goulart, Celso Furtado exerceu celebre trabalho como diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento (atual BNDES) e da SUDENE, este no governo de Juscelino Kubistchek. Nessa época, Furtado era visto como o principal defensor dos interesses do Brasil diante do capitalismo internacional.

Suas principais obras são Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, livro que se amplia em volume posterior; Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico; Um projeto para o Brasil; A pré-revolução brasileira; O Mito do Desenvolvimento Econômico, que ele levanta duas questões, a primeira delas diz respeito aos impactos do processo econômico no meio físico, na natureza – um tema completamente alheio ao núcleo do pensamento tradicional na economia – e a segunda se refere à constatação do caráter de mito moderno do desenvolvimento econômico. Porém, seu clássico é, Formação Econômica do Brasil, obra esta que faz um estudo amplo e inédito da realidade histórica econômica do Brasil, do tempo da colonização portuguesa aos dias atuais, e claros em relação à época em que ela foi escrita.


Atividade: (Publique em seu blog)

Faça um esquema dos autores da geração de 50 destacando:


4. Ditadura Militar


Na década de 60, a sociologia se preocupou com o processo de industrialização do país, com as questões de reforma agrária e dos movimentos sociais na cidade e no campo. A partir de 1964, o trabalho dos sociólogos se voltou para os problemas sócio-políticos e econômicos, originados pela tensão de se viver em um país cuja forma de poder é o regime militar.

Surgiu nessa época também a Teoria da Libertação – conhecida também como Teologia da Libertação – onde parte da igreja católica passou a disseminar o pensamento libertário, ou seja, contra a opressão de uns sobre os outros. Nessa época, no Brasil, em que os militantes católicos se aproximaram dos movimentos no campo, surge a Comissão Pastoral da Terra, entidade que está na origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Essa mudança surgiu na metade da década de 50, configurando-se plenamente de 1960 em diante.

Outra questão diz respeito à abolição do Estatuto da Estabilidade, que até o ano de 1966 regeu a relação social de contrato de compra e venda da força de trabalho e foi substituído pela sistemática do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. A consideração do caráter despótico do poder imediato do capital sobre o trabalho levou a problematizar duas tomadas de posições na produção de conhecimento existente, particularmente na área de Sociologia Industrial e do Trabalho.

A primeira é a consideração de relações de trabalho de dominação / subordinação de cunho patrimonialista na indústria brasileira.
A segunda é sobre o caráter integração / ajustamento / adaptação do trabalhador na empresa industrial.

Na década de 60, os estudos sobre a formação do moderno operariado fabril no Brasil e América Latina, centravam-se em alguns binômios representativos: industrialização / urbanização; moderno / tradicional; migração rural / urbana; mobilidade social / acesso aos bens materiais e simbólicos da sociedade moderna e meio urbano-industrial / baixa organização sindical dos trabalhadores.

A classe operária foi-se transformando, perdendo determinações e finalidades diante da sociedade, da humanidade e da natureza, recuperando experiências, cultura e cotidianidade que permitem o estudo de sua multiplicidade, fora dos limites de sua representatividade externo-organizativa e também do chamado “chão de fábrica”, das tecnologias, dos processos.

As relações sociais no mundo do trabalho passam a ser analisadas em conjunto ao mundo da vida, onde fatores como família e redes de sociabilidade informais demonstram possuir um peso antes desconsiderado. A classe com o sujeito e as várias faces nos indivíduos que a compõem: homens, mulheres, crianças, jovens e idosos, com seus projetos e perspectivas.

A análise dessas práticas permite compreender os sentidos atribuídos pelos trabalhadores às suas condições de existência e à construção de identidades sociais.
Azevedo (1951), enfocando a fase de introdução do ensino da Sociologia em escolas do País, argumentava que a origem da consolidação da Sociologia como disciplina deve ser procurada não em uma única causa determinante, mas em múltiplas causas que estão estreitamente ligadas, sendo possível distingui-las unicamente para fins analíticos. A multiplicidade de fatores decorrentes dos contatos, conflitos e acomodações de povos e culturas diversas; o contraste entre as sociedades em mudança e as culturas de folk remanescentes em toda a vasta extensão territorial; a variedade de paisagens culturais e a contemporaneidade ou justaposição nas realidades concretas, de séculos ou de “camadas históricas”, deveriam certamente sacudir a atenção e despertar o interesse pelo estudo científico dessas realidades sociais vivas e atuais.


5. O PERÍODO DA SOCIOLOGIA CIENTÍFICA



O início do período da Sociologia Contemporânea corresponde à fase de emergência da Sociologia Científica, que buscava, sob a égide do paradigma estrutural-funcionalista, a consecução de um padrão de institucionalização e prática do ensino e da pesquisa em sociologia, similar ao dos centros sociológicos dos países centrais. A concepção de desenvolvimento desta abordagem teve sua expressão na Teoria da Modernização e em sua análise do processo de transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna.

Os anos 50 foram marcados também pelo surgimento da proposta de uma “Sociologia Autêntica”, nacionalista, que buscava contribuir para o processo de libertação nacional e que tem na obra de Guerreiro Ramos (1957 e 1965) sua referência principal. Teoricamente, a controvérsia entre Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes dominou a cena da comunidade sociológica brasileira durante esse período, tendo por fator central a questão da particularidade e ou universalidade do conhecimento social produzindo no Brasil. A Teoria da Modernização concebe o processo de desenvolvimento como uma transição de uma sociedade rural tradicional para uma sociedade industrial moderna (Germani, 1969).

A “Sociologia Científica”, caracterizada pela “adoção dos princípios básicos do conhecimento científico em geral, embora tenha suas próprias especificidades”, assim como pelo “desenvolvimento de procedimentos de pesquisa extremamente refinados e muito mais poderosos do que os previamente utilizados”. As conseqüências disso são uma “tecnificação crescente da Sociologia, dada à estandardização dos procedimentos de pesquisa, o uso generalizado de instrumentos selecionados de pesquisa, a ‘rotinização’ e coletivização das atividades, a necessidade crescente de recursos financeiros, espaços físicos e equipamentos, e de pessoal técnico e administrativo” (Germani, 1964).

O Período de crise e diversificação da Sociologia Brasileira, em fins dos anos 50 e início dos anos 60, foi resultado de uma crítica marxista e implicou numa crescente diferenciação paradigmática que foi potencializada, já no decorrer do período de crise e diversificação da Sociologia brasileira, pelos eventos político-culturais dos períodos 1964/1968 e 1969/1974. Essa crítica marxista nos países latino-americanos levou a uma série de desastres político-militares como, no Brasil, a derrota da guerrilha urbana e a morte dos líderes guerrilheiros como Marighella e Lamarca, e a derrota da guerrilha do Araguaia. O impacto negativo da instauração do regime autoritário sobre a evolução sociológica brasileira está relacionado diretamente com o golpe de 64 e com o “golpe dentro do golpe” de 1968, que teve no AI-5 seu marco principal. O fechamento do Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB, em 1964, os inquéritos policiais as cassações pareciam indicar que as Ciências Sociais brasileiras estavam entrando em um período recessivo. Porém, houve uma expansão que teve seu centro de gravitação nos cursos de pós-graduação, que foram criados e consolidados como centros de ensino e pesquisa, particularmente após a Reforma Universitária de1969, e teve por contraponto a criação e as atividades de centros privados de pesquisa tais como o CEBRAP, o CEDEC, e o IDESP (Sorj e Mitre, 1985).
Sorj e Mitre indicam que nos primeiros anos do regime militar, no período que se estende entre 1964 e 1969, os prognósticos pessimistas pareciam confirmar-se. As cassações de professores universitários logo depois do golpe, e posteriormente, com impacto ainda maior, que se seguiram ao AI-5, levou a pensar que as Ciências Sociais entrariam em recesso no Brasil. Neste mesmo período foi aplicada a reforma universitária, que, com a assessoria americana, encontra com a vontade da comunidade acadêmica. Embora fossem importantes, esses fenômenos não chegaram a abalar fundamentalmente o futuro desenvolvimento das Ciências Sociais, ainda que certos centros universitários como a USP e UFRJ possam ter sofrido individualmente um impacto maior. Isto, em primeiro lugar, porque um número importante de cientistas sociais cassados, permaneceram no país, inclusive auto-organizados em centros como o CEBRAP, e em segundo lugar, nenhuma instituição chegou a ser fechada ou mesmo esvaziada.

Principais autores:



GOFFMAN


Os trabalhos de Goffman começam a ser mais conhecidos e influenciar a sociologia no Brasil em meados dos anos 60. As Ciências Sociais no país tinham, na época, como referências principais o marxismo e o estruturalismo, com suas diferentes versões e facções. O nacionalismo antiimperialista e o próprio regime militar, com as radicalizações a ele associadas, não constituíam, propriamente, um estímulo à divulgação de autores norte-americanos, principalmente quando não ligados de modo nítido a uma preocupação de análise mais ampla de processos sócio-históricos. Mas nos anos que se seguiram ao golpe de 1964, e mesmo no período imediato que o precedeu, houve uma forte tendência de rejeição à produção norte-americana, classificada de empirista e pouco sofisticada.

No entanto, já mais perto do final da década de 60, o crescente interesse por uma análise política do cotidiano permite uma abertura maior em relação a estudos classificados, às vezes de forma um tanto pejorativa, como “micro”.
É dentro desse quadro que, sobretudo antropólogos e profissionais da área, passam a se interessar por Goffman. Embora com certo atraso, começam a serem publicados alguns de seus textos, A Representação do Eu na Vida Cotidiana (1959/1975); Manicômios, Prisões e Conventos (196/1974) e Estigma (1963/1975) são lançados por editoras diferentes com boa receptividade. A Representação do Eu e Estigma foram publicados em coleções dirigidas por antropólogos, Roberto Da Matta e Castro Faria.

LUIZ PEREIRA



Nascido em 1933 e falecido em 1985, o autor teve sua formação acadêmica, desde a graduação até o Doutorado, na Universidade de São Paulo. No período entre 1955 e 1958, concluiu o Bacharelado e a Licenciatura em Pedagogia, os títulos de Mestre em Sociologia e Doutor em Ciências Sociais foram obtidos no início da década de 60, ambos sob a orientação de Florestan Fernandes. A obra de Luiz Pereira pode ser organizada a partir de sua recorrência a três temas:

- Dimensão educacional dos processos sociais;
- Processo de desenvolvimento;
- Diversas faces do modo de produção capitalista no Brasil.

O primeiro tema corresponde ao momento inicial de sua produção acadêmica, compreendendo o período entre 1960 e 1967. São dessa época os seus primeiros estudos em Sociologia da Educação, como matéria de estudos acadêmicos e objeto de investigação.

O processo de desenvolvimento social como objeto de suas investigações sociológicas correspondeu ao segundo período de sua obra, iniciado no final dos anos 60.

6. REDEMOCRATIZAÇÃO



Com a abertura política nos anos 80 o país busca retomar sua identidade social. Durante o regime militar, muitos intelectuais foram aposentados e impedidos de lecionar, outros foram exilados ou se exilaram por espontânea vontade, passando a publicar suas obras no exterior ou de forma independente.
Com fim do bipartidarismo, agora pluripartidário, grande número de intelectuais decide deixar a cátedra para ingressar na política.

Darcy Ribeiro, por exemplo, filia-se ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) este de Getulio Vargas, que reivindicava o nacionalismo e o populismo, mudando posteriormente para o atual PDT (Partido Democrático Brasileiro). Outros nomes da sociologia ajudaram a fundar o PSDB (Partido da Social-Democracia Brasileiro) como Fernando Henrique Cardoso, este assumindo a Presidência da Republica em 1994, sendo o primeiro sociólogo na historia brasileira a assumir tal cargo.

Entretanto, o partido que mais se beneficiou com essa nova atuação dos cientistas sociais foi o PT (Partido dos Trabalhadores). Nomes como Florestan Fernandes, Antonio Candido, Mello e Souza e Francisco Weffort, foram alguns que engajaram na luta política do PT.

Esse engajamento de intelectuais foi de imensa importância para o período histórico que o país vivia, uma vez que, tratava-se de uma integração das teorias sociais e práticas políticas, o resultado dessa parceria viria em 1988, quando foi promulgada a nova Constituição Federal do Brasil e a sétima em vigor. Porém a única com o emblema de “Constituição Cidadã”, como descrita por Ulysses Guimarães.

Percebe-se também, nessa época, uma grande diversificação nas Ciências Sociais em nosso país, ressalta-se, que o Brasil sempre foi um campo fértil para as Ciências Sociais, devido a toda sua história. Porém, no período em que nos referimos à multiplicidade dos campos de estudo, destaca-se em especial a Sociologia, em que surgem diversos estudos e análises sobre a questão feminina, do menor de idade, das favelas, das artes, da violência urbana e rural, entre tantos outros.

A Sociologia torna-se cada vez mais interdisciplinar e plural no Brasil, os sociólogos buscam redefinir seus conceitos de interdependência em um mundo cada vez mais globalizado.

Nesse contexto, não poderíamos deixa de falar de Fernando Henrique Cardoso, Rio de Janeiro – RJ, 18/04/1931. Em 1949, começou a estudar Sociologia na USP, onde lecionaria quatro anos mais tarde. Com o golpe de 64 exilou-se no Chile e na argentina. Trabalhou como professor em diversas instituições pelo mundo, como na Universidade de Nantere e na Faculdade de Ciências Sociais de Santiago, no Chile. Foi também nomeado diretor-adjunto do Instituto Latino-Americano de Planificação Econômica Social.

Em seus estudos sociológicos, pesquisou a evolução social da America Latina e analisou a dependência dos países subdesenvolvidos no sistema internacional de produção e comércio, descrito com clareza em suas obras: Dependência e Desenvolvimento na America Latina (1964), escrita em parceria de Enzo Faleto, e Política e Desenvolvimento em Sociedades Dependentes: ideologias do empresariado industrial argentino e brasileiro. Nesta fase, se destina a sociologia do desenvolvimento, porém, ele também se aprofundou na Sociologia Política. Em 1994 foi eleito Presidente de Republica, reelegendo-se em 1998.


7. SOCIOLOGIA NOS DIAS ATUAIS



Nos dias atuais, a sociologia busca cada vez mais sua posição perante as Ciências Sociais, buscando novos rumos e metodologias que se encaixem nos novos temas recorrentes na mudança de século.

Um grande marco na atualidade é o retorno da sociologia na Matriz Curricular, em escolas do Ensino Médio. Uma grande conquista da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei Federal n. 9394/96 e recentemente a Lei federal n. 11.684/08, pois tempos atrás os sociólogos eram perseguidos pela ditadura militar, também é um grande salto se levarmos em conta que a sociedade brasileira esta “engatinhando” em busca de uma real democracia.

A sociologia do século XXI torna-se cada vez mais interdisciplinar e plural, diversificando sua atuação, pois ocorre cada vez mais uma grande multiplicação nos seus objetos de estudos, tornado-se, cada vez mais uma ciência complexa. Para a realidade brasileira ela tem uma particularidade, pois, mesmo vindo a aparecer como método científico sistemático, no Brasil, somente na década de 30, o pensamento sociológico sempre existiu, tanto nas idéias abolicionistas como nas republicanas, o losango em nossa bandeira é símbolo do positivismo europeu trazido por estes idealizadores no final do século XIX.

O estudo da particularidade da sociedade brasileira sempre foi meta de estudo dos sociólogos, pois, o Brasil é um caso à parte estudado pela sociologia e este trabalho tem o intuito de compreensão dessa realidade vivida.

A Sociologia no Estado de Mato Grosso do Sul

No estado de Mato Grosso do Sul, temos uma série de publicações relacionadas aos estudos de aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da região, inclusive, remetendo ao tempo anterior à divisão do estado de Mato Grosso. Temos muitas publicações de sociólogos, porém, conhecidas e reconhecidas somente no âmbito das universidades, que escreveram e ou escrevem sobre o tema proposto, temos também publicações de historiadores e pessoas comprometidas com o nosso estado, e que se preocupam em manter registrados diversos aspectos importantes.

Portanto, podemos dizer que apresentamos produções especificamente sociológicas sobre o estado e não podemos descartar ou deixar de lado muitas produções que temos sobre aspectos relevantes de nossa sociedade, e que devem ser conhecidos, estudados e divulgados, na intenção de conhecermos melhor a sociedade em que vivemos.
Temos muitos filmes, livros, textos, teses de mestrado e doutorado, entre outras publicações, relacionados abaixo, e que apresentam fatos pouco conhecidos e que merecem ter seu reconhecimento por parte de todos nós, além de bibliografia recomendadas para trabalharmos a temática sobre a sociologia no estado de Mato Grosso do Sul.

Lembramos ainda, que as referências bibliográficas sugeridas são informações que representam o início de um trabalho sociológico a ser realizado com os estudantes na escola, e que, necessitamos que sejam feitas pesquisas, possibilitando o melhor conhecimento das publicações e posterior compreensão e entendimento da realidade local.

Aspectos sócio-econômicos e culturais de Mato Grosso do Sul
Uma trajetória divisionista

A criação do Estado de Mato Grosso do Sul é resultado de um longo movimento, com características sócio–econômicas, políticas e culturais, que permeou sua formação histórica recente. A resistência sul-mato-grossense é uma das peculiaridades que entremeiam a história de Mato Grosso do Sul desde os primeiros tempos de conquista espanhola, depois luso-brasileira. Em cada período histórico e resistência sul-mato-grossense aparece com uma conotação.

O movimento divisionista no Sul de Mato Grosso tem sua origem nos fins do século XIX, 1889, quando alguns políticos corumbaenses divulgam um manifesto, no qual propunham a transferência da capital de Mato Grosso para Corumbá. A atitude desses políticos não se tornou vitoriosa, mas, mostrou que essa tímida ação política permitiu marcar o início de uma longa história de lutas e revezes.
Alguns fatores como a sistematização da pecuária, o desenvolvimento sócio-econômico das vilas e cidades, a exploração da erva-mate pela Companhia Matte Laranjeira e a ligação entre o Sul de Mato Grosso e São Paulo, marcaram a origem do movimento divisionista.

O movimento divisionista pode ser dividido em quatro grandes fases que acompanham a evolução histórica do Estado no período republicano. A primeira fase, de 1889-1930, é marcada pela formação das oligarquias sul-mato-grossense que lutam pelo reconhecimento da posse da terra, fazendo oposição aos privilégios da Companhia Matte Laranjeira. É nessas lutas, que, nos ervais e Campos de Vacaria, se manifesta à idéia divisionista. As oligarquias sulinas, nas lutas políticas, uniram-se, nas primeiras décadas da República Velha, às oligarquias de Cuiabá, adversárias da Companhia Matte Laranjeira e que tinham interesses nos ervais. Através dessa aliança as oligarquias sul-mato-grossenses fizeram oposição armada ao governo estadual e a Matte Laranjeira. Inicialmente, o movimento divisionista não tem um plano, um programa político definido, os objetivos divisionista quase sempre se confundiam com interesses pessoais do coronel. Percebe-se, neste período, que era elite, formada pelos fazendeiros que defendiam a idéia divisionista.

A partir de 1920, com a transferência do comando da Circunscrição Militar para Campo Grande, e o aumento do contingente militar no Sul de Mato Grosso, as oligarquias sulinas decepcionadas com as antigas alianças, aliam-se ao militares e adotam sugestões de outros movimentos vindos de fora do Estado como forma de fortalecer a causa local. A este fator é somada a regularização das viagens ferroviárias que propiciaram a chegada de novos migrantes e a dinamização da economia sul-mato-grossense. Outro reflexo das viagens ferroviárias é a vinculação do sul de Mato Grosso com a economia paulista e o conseqüente desenvolvimento das cidades exportadoras de gado, particularmente Campo Grande, e a transferência do eixo econômico Cuiabá, Corumbá, Rio Paraguai para Campo Grande. Esta transferência possibilita a formação de novas lideranças políticas ligadas ao comércio e a outras atividades profissionais, e um crescimento demográfico na região sul-mato-grossense. Esse quadro, de novos fatores de ordem sócio-econômica e política, traz significativas mudanças no movimento divisionista, o qual extrapola ervais e atingem as cidades exportadoras de gado, particularmente Campo Grande. É o início da urbanização do movimento.

A Segunda fase, de 1930-1945, é o período em que o movimento começa a organizar-se; as lutas armadas, gradativamente, são substituídas por pressões políticas junto ao Governo Federal. Em 1932, os sul-mato-grossenses aliam-se aos paulistas e lutam na Revolução Constitucionalista. Neste confronto armado liderado por Bertoldo Klinger, comandante da Circunscrição Militar em Mato Grosso e Comandante Geral das tropas rebeldes instalada no sul de Mato Grosso num governo dissidente para o qual nomeia Vespasiano Martins. Após três meses de governo e de luta, os divisionistas e constitucionalistas são derrotados, e o novo Estado desaparece. Essa revolução serviu para divulgar a idéia divisionistas e Campo Grande torna-se o centro político de difusão do movimento.

Dois anos depois, 1934, o Congresso Nacional reunia-se para elaborar uma nova Constituição. Jovens estudantes fundam a Liga Sul-Mato-Grossense que, inicialmente objetiva angariar apoio dos sul-mato-grossenses para o manifesto que seria encaminhado ao Presidente do Congresso Nacional Constituinte. A Liga desencadeia a campanha divisionista no sul de Mato Grosso, coletando Treze Mil assinaturas, com as quais visava sensibilizar o governo federal, particularmente os Constituintes, para que eles, na elaboração da Constituição, aprovassem a divisão do Estado de Mato Grosso. Após a promulgação da Constituição, os divisionistas são derrotados, e Getúlio Vargas adota a política nacionalista “Marcha para o Oeste”, a qual visava, entre outros objetivos, a segurança das fronteiras. Para isso mandou instalar novas unidades militares no Sul de Mato Grosso.

O aumento do contingente militar efetivou outros objetivos do governo que era a manutenção da ordem e progresso dessa região fronteiriça. Os divisionistas são envolvidos pela política de Vargas; a Companhia Matte Laranjeira adapta-se a essa política e altera sua estratégia em relação à unidade estadual. Ou seja, os ervais estavam devastados e também a política do Instituto Brasileiro do Matte, criado por Getúlio Vargas, não lhe favoreciam grandes lucros. Por isso ela permite que o governo estadual regularize as posses de terras dos moradores dos ervais, em troca de indenizações sobre os arrendamentos.

Em 1943, Getúlio Vargas, em nome da segurança das fronteiras cria o Território de Ponta Porã, o qual deixa de fora, da nova unidade, Campo Grande a principal cidade divisionista. A Criação do Território de Ponta Porã não atendeu aos interesses divisionistas, não satisfaz a política da Companhia Matte Laranjeira, e também não agradou ao governo estadual. Nesse período, o Sul de Mato Grosso é marcado por grandes prosperidades, a qual não era suficiente para equilibrar as finanças estaduais. Percebe-se, nessa fase, que a política de Getúlio Vargas foi um dos obstáculos aos objetivos divisionistas. Percebe-se ainda, a formação de novas oligarquias e a Companhia Matte Laranjeira, gradativamente, retira-se dos ervais.
A terceira fase vai de 1945 a 1964. Após a deposição de Getúlio Vargas, o novo Presidente da República é o General Eurico Gaspar Dutra, que era mato-grossense de Cuiabá. Ele adota uma política de redemocratização do país, a qual reforça a política de integração nacional que incentiva a manutenção da unidade estadual. Em 1946, após a promulgação da Constituição, o governo federal extingue o Território de Ponta Porã reintegrando a região ao Estado de Mato Grosso. Apesar dessa política, os divisionistas, durante as reuniões da Assembléia Constituinte, reorganizam-se e tentam a transferência da Capital de Cuiabá para Campo Grande. As iniciativas divisionistas desse período são frustradas, em parte, devido a grande representatividade política dos sul-mato-grossenses nas esferas estadual e federal, e também, por causa da política de integração nacional do governo federal.

Percebe-se que, nesse período, depois de várias reformulações em sua estrutura organizacional, a Companhia Matte Laranjeira mostra desinteresse em reflorestar os ervais, paradoxalmente estimula o governo estadual a regularizar as posses dos colonos.

A Quarta fase é de 1964-1977. O golpe de 31 de Março de 1964 põe fim a um período de democracia e inicia um regime militar autoritário. Os militares, buscando um maior controle dos problemas da sociedade, adotam a política do desenvolvimento com segurança, o que permitiu a criação de programas que facilitam o desenvolvimento de alguns Estados, entre eles Mato Grosso. Nesse período, os políticos divisionistas aproximam-se dos militares o que lhes permite tomar parte de algumas comissões que estudam (secretamente) as potencialidades políticas que impediam a divisão de Mato Grosso. Após vários estudos, negociações, acordos políticos, o Presidente Ernesto Geisel assina em 11 de Outubro de 1977 a Lei Complementar nº 31 que cria o Estado de Mato Grosso do Sul. Nessa fase, a Companhia Matte Laranjeira mantinha apenas algumas fazendas de gado, o seu principal interesse econômico de outrora, a erva-mate, agora era explorado por ervateiros autônomos.

Em síntese, estudar a História do Movimento divisionista é resgatar a História do Estado de Mato Grosso do Sul, é conhecer a História do Brasil contemporâneo.
Profª. Alisolete Antonia dos Santos Weingärtner.

O território do atual Estado de Mato Grosso do Sul, segundo o Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha e sua exploração foi feita por expedições de aventureiros e pela atuação dos jesuítas.

Através do curso dos Rios Paraguai e do Paraná chegam os espanhóis, procedentes do estuário do Prata, à procura de jazidas minerais; e os bandeirantes, descendo o Rio Tietê, subindo o Rio Grande e rumando pelos Rios Sucuri, Pardo, Verde ou o Ivinhema, em busca de ouro.

Passadas as buscas por ouro, os bandeirantes paulistas fazem incursões com o propósito de capturar índios para vendê-los às lavouras do litoral. Os índios Guaicurus e Paiaguás, habitantes do local, lutam incessantemente para defender suas terras.

Até que uma das expedições de captura descobre ouro. Inicia-se uma nova etapa econômica. O bandeirante paulista passa a se fixar mais à terra, fundando arraiais auríferos e incrementando a atividade mineradora. Inicia-se a corrida do ouro que faz com que o crescimento da região seja rápido e desordenado.
Ergue-se uma pequena capela, a de Nossa Senhora da Penha. Mas os arraiais auríferos começam a se esgotar.

Em 1722, surgem as Lavras do Sutil, nas terras do bandeirante Miguel Sutil, com pepitas do mais puro ouro, provocando nova corrida.
Em 1748 é criada a Capitania de Mato Grosso, com sede em Vila Bela e é incorporada ao Brasil, pelo Tratado de Madri, em 1750.

A Região Centro-Sul do Mato Grosso tem um desenvolvimento socioeconômico diferente da região Norte. Enquanto o sul apresenta uma agricultura mais intensiva, distribuída por um número maior de propriedades, o norte continua com a pecuária extensiva e o latifúndio.

Fluxos migratórios vindos do Sul e Sudeste do País, procuram se estabelecer no sul, criando afinidades políticas com os Estados vizinhos, especialmente São Paulo.
A área começa a ser povoada quando os fortes militares usados na Guerra do Paraguai (1864-1870) transformam-se, após o conflito, em núcleos urbanos, como Dourados, Miranda e Coxim e com a antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Surgem idéias separatistas e com a revolução constitucionalista de 1932, essas aspirações fazem o sul aderir à revolta sob a condição de que esta, uma vez vitoriosa, torne realidade a divisão do Estado.

O Norte resiste à idéia temendo o esvaziamento econômico.
A política de interiorização dos anos 40 e 50 beneficiou o Estado e ganha maior vulto com a construção de Brasília no final da década de 50, e da política de integração nacional dos anos 70.

Em 1975 a idéia de separação é intensificada. Em 1977, o Governo Federal divide Mato Grosso em dois Estados e em 1979 transforma-se oficialmente em Estado.

Durante 4 anos foi governado por interventores indicados pelo Presidente da República e a partir de 1982, com o Governador eleito, a industrialização é estimulada através de incentivos governamentais e são atacadas as ameaças ao meio ambiente, especialmente os "coureiros" que caçavam ilegalmente no Pantanal.


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